terça-feira, 4 de novembro de 2008

OBAMA MATA A AVÓ

Obama mata avó. É verdade e tudo começou há cerca de 30 e tal anos atrás. Durante toda a campanha Obama foi acusado de ser demasiado branco, pouco negro, frio, calculista, arrogante, inexperiente no campo político, pedante, etc., etc., etc… Ora nada disto foi tão verdade como até ao dia de hoje, pronto... de ontem.

O candidato presidencial chamava à avó tutu, há quem diga que era uma alcunha carinhosa havaiana para avó, no entanto olhando para este nome facilmente percebi que tutu não passa de uma mistura de tutsi e hutu, que como toda a gente sabe são os povos que em 1994 andaram à porra e à massa lá para os lados do Ruanda, aquando do genocídio (sendo que foram os tutsis que levaram com a massa, o que faz de Obama um Hutu). E foi quando a história do cancro me começou a cheirar mal. Assim o meu faro de Geraldo Rivera/ Maria José Morgado/ Inspector Gadjet fez-me pesquisar um pouco e trazer até vocês a Verdadeira História sobre a morte de Madelyn Dunham.

He spoke of her often on the campaign trail, mentioning that she worked in a bomber assembly plant during World War Two. Later, she worked as a secretary in a bank and was eventually promoted to vice president, reportava a CNN. Até aqui tudo bem. O que eles se esqueceram de dizer foi que uma vez a avó chegou a casa, depois de um dia de trabalho como vice-presidente lá do banco, virou-se para o neto e disse Obamazinho traz um chazinho à avó! Obama fez ouvidos de mouco, o que era uma estupidez, uma vez que com aquelas orelhas o puto não enganava ninguém. A avó repetiu mais uma e outra vez até que se irritou e foi ver o que ele estava a fazer. Foi dar com o Obamazinho no jardim com várias páginas de revistas e jornais espalhados à sua volta. Numa estava o Rockefeller, noutra uma foto do Neil Armstrong na lua, noutra Jackeline Kennedy. No entanto, no centro de cerca de 10 páginas estava uma do Washington Post com uma fotografia da Casa Branca. Barack perguntou a Madelyn se podiam viver naquela casa grande ao que a avó respondeu com uma gargalhada estridente, acrescentando Porque é que achas que essa casa se chama Casa Branca? Pensas que és o Luther? Vê o que lhe fizeram há 3 anos atrás! Não, meu querido, não podes viver lá. E continuou a rir de regresso a casa. Obama ficou furioso e disse para si mesmo ai vou viver lá vou, tu é que não, mas vais-me ajudar. MUAHHHHH!!! E desde então que começou a arquitectar a morte da avó.

Frio? Calculista? Nã, nada disso, o homem só conseguiu matar a avó na véspera das eleições, de forma a que a grande afluência às urnas quase parecesse o cortejo fúnebre da Princesa Diana. E no fim de contas, Barack, que agora é mais branco que o Michael Jackson, até já tem uma outra avó, a Mom Biden, que se bem se lembram durante a convenção democrata acarinhou quase mais o candidato a presidente que o candidato a vice, o que é normal uma vez que suspeito seriamente que a senhora está esclerosada, pois toda a gente saiu do palco e a velhotinha ficou para trás a acenar ao público.

Inexperiente no campo político? Demasiado branco? Nã, nada disso. Ele simplemente viu este comic sobre a história dos Estados Unidos, do fabuloso Bowling for Columbine, e decidiu fazer a continuação.


A big chunk of whatever success I’ve achieved is because of her – afirmou ontem Barack e há quem jure ter ainda ouvido I used to love her, but I had to kill her!

Sabem que vos digo: DON’T VOTE!



OR VOTE!


But don't forget, Obama killed his grandmother.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Being Alive

Almost Happy - Ks Choice


O que é que D.H. Lawrence e K's Choice têm em comum? A Pinheirinha, o que é uma honra para ambos. Eu gosto do improvável, de o ser, de provar que isso da improbabilidade não existe. E até este momento seria quase improvável juntar os músicos belgas com o escritor inglês, no entanto aqui estão eles.

O que é mais importante: ser feliz ou sentirmo-nos vivos? Será um o caminho do outro? Um a consequência do outro? Não necessariamente, isto porque nem sempre sabemos o que é que nos fará feliz, ou mais feliz. E ser ou estar-se meio feliz não existe e se existir parece-me então que estamos num estado de letargia. O que não é mau de todo se a seguir nos soubermos "ressuscitar" desse estado. Já em relação a estar-se ou sentir-se vivo não há limbo possível. É-se, está-se, ponto final. Sentirmo-nos vivos acarreta muito mais segurança que o Santo Graal da felicidade, além de que me parece um caminho muito mais fácil de percorrer, pois não necessita de mapa. Já encontrar o Santo Graal... algumas pessoas podem nunca o vir a fazer.

By now, Pinheirinha just wants to be fully alive and rely on... rely on her, regardless of happiness.

Being Alive

The only reason for living is being fully alive
and you can't be fully alive if you are crushed by secret fear
,
and bullied with the threat: Get money, or eat dirt! —
and forced to do a thousand mean things meaner than your nature,
and forced to clutch on to possessions in the hope they'll make you feel safe,
and forced to watch everyone that comes near you, lest they've come to do you down.

Without a bit of common trust in one another, we can't live.
In the end, we go insane.
It is the penalty of fear and meanness, being meaner than our natures are.

To be alive, you've got to feel a generous flow,
and under a competitive system that is impossible, really.
The world is waiting for a new great movement of generosity,
or for a great wave of death.
We must change the system, and make living free to all men,
or we must see men die, and the die ourselves.

D.H.Lawrence

Amo este poema. Obrigada D.H.Lawrence!!! :)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Me Me Me!!!

Ser operada é um pouco como fazer anos, com umas pequeninas diferenças.

No nosso aniversário não nos costumam abrir e dar pontos, não nos dão sedativos (o que é pena porque aquilo é brutal) e eu, em particular, não fico especialmente feliz, fico mais para o taciturna. Além disso celebramos só um dia por ano e nesse dia não estamos sempre deitados. Pormenores à parte tudo o resto é muito similar.

Ser operada é quase como fazer anos durante 15 dias, dependendo da intervenção, obviamente. É o ring ring do telefone, a vibração das short message service, o dling dlong da campaínha a sair do intercomunicador. Os sorrisos e os abraços, as prendas e os mimos (mais um Keith Haring para o meu quarto :D) e ainda a minha decisão soberana de ver, comer (hoje deixaram um dos pratos preferidos da menina, LEITÃO, nhami) e fazer o que quiser.

Também temos alguns dissabores como ler mais um livro do Gabriel Garcia Marques e continuar a não perceber o fascínio à volta deste escritor (pronto, cruxifiquem-me, vá lá) ou ainda termos tanto tempo livre e não termos posição para escrever e postar, postar, postar até mais não.

Fora isso, ainda não percebi bem se prefiro fazer anos ou ser operada. Noutro dia disse a um amigo que gostei da experiência. Obviamente que ele soltou um espantado Ai gostaste? Percebamos uma coisa, o facto de eu ter gostado não quer dizer que queira repetir. Gostei porque nunca tinha passado por essa experiência, mas principalmente porque correu tudo lindamente, tal e qual como eu tinha imaginado, contrariando todos os que me diziam que não iria ser pêra doce. Já comemorar aniversários não é o meu forte. Tem anos em que detesto, mesmo.

De uma forma ou de outra is all about me and by this time I'm so sick of me! Uma semana inteirinha comigo e chego à conclusão que não percebo como vocês todos me ADORAM e alguns AMAM mesmo!!! LOOOOOL. Agora que a recuperação está quase a acabar estou mortinha para dar de volta tudo o que recebi, porque receber é muito bom, mas dar... dar é milhoes de vezes melhor!

No entanto, não se esqueçam, há sempre espaço no meu quarto para mais Keith Harings ;)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

OHHHH MAAAANHE!!!

Há uns anos atrás conheci o Underdog. Underdog era a alcunha, não o nome obviamente, ele chamava-se Ricardo e digo chamava-se porque já morreu. O Underdog era uma pessoa bestial, mesmo, e especial. Tinha um sorriso brutal, não era propriamente bonito, era mais… luminoso, isso, luminoso. O olhar ajudava, ou pelo menos a forma como ele olhava para mim. Não era uma pessoa feliz, não que fosse infeliz, mas tinha demasiados macaquinhos no sótão. Aliás, acho que foi ele próprio que se alcunhou de Underdog, o que dá uma ideia de como ele se perspectivava.

Ainda hoje tenho o seu número gravado no meu telemóvel e sou incapaz de o apagar, incapaz. Lembro-me imensas vezes dele, dele e de todos os meninos que me “adoptaram” (e à Bá) naquele campismo da Ericeira, no remoto Verão de 99. Lembro-me com saudades do que passámos lá, do amigo que perdi e do que se perdeu pelo caminho, o Pedro, a quem carinhosamente chamava de Papá. No entanto, do Underdog lembro-me sobretudo quando me apetece gritar. SIM, GRITAR. Daquelas férias ficaram-me três frases na memória: O que é que são 5 metros?, Ohhhh, MAAAANHE! e Porque é que não existem elefantes cor-de-rosa? Não me peçam para explicar a primeira e última frases, mas não, não andamos a ingerir cogumelos mágicos. Quanto à segunda… parece que ainda estou a ver o Underdog a vir da casa de banho, a aproximar-se das tendas e a gritar a todo o parque: OHHHH MAAAANHE! Lindo!

Não conheço expressão mais catártica! Mesmo! Quando alguma tensão me pesa nos ombros, duros como um iceberg, quando os neurónios estão tão cansados de tanto pensar num determinado assunto, quando as forças começam a escorregar como a água a escorrer para o ralo no banho, nada melhor que um bom grito e o OHHHH MAAAANHE é sempre a interjeição que me vem à cabeça. Só ouvindo é que alguma vez perceberão como é libertador. E reparem que podiam ser outras palavras quaisquer, desde que abram bem os pulmões e com toda a garra soltem alguma coisa. Contudo, parece-me que a figura da mãe, seguro poiso de abrigo, o lugar que nunca desaparecerá e para onde poderemos sempre voltar, tem uma relevância extraordinária. Infelizmente, se me der para um momento de catarse às 3 da manhã, em casa, não vou poder fazê-lo clamando em altos berros, mas só de me lembrar do Underdog a executar aquele estranho grito já fico muito melhor.

No entanto, esta não deve ser uma expressão associada a momentos menos bons. Nós usávamo-la especialmente quando estávamos animados, aliás nós estávamos sempre animados, como seria de esperar em férias. Esta expressão está sim associada a libertação, a um (Mafalda desculpa, mas vou ter de te roubar a palavra do mês) “DESLARGA-ME”, a um soltar de amarras. Àquele barulho típico das correias a rebentarem – TCHIM! WOW, melhor, bem melhor. E garanto-vos que raramente nos sentíamos presos.

Hoje lembrei-me do Underdog. Não me cheguei a despedir do Ricardo, nunca imaginei que teria de o fazer, mas talvez um dia passe pelo túmulo dele e diga baixinho: Sabes uma coisa? Cada vez menos preciso de chamar a minha mãe. E tu? Já sabes o que são 5 metros? Eu ainda não estou convencida de que não existem elefantes cor-de-rosa! :)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ou sim!

Antes de qualquer Porquê? Hum... Porquê?II tive de aqui vir deixar outro post.

Localizemo-nos: estou em Lisboa, naquilo que muito gente chama de férias, mas que eu não caracterizo de tal. Mais propriamente em casa do Manel (Manel devo dizer que neste momento "invadi" o teu computador, mas nem tanto assim, porque não abri nenhuma das tuas janelas, só o Internet Explorer. Desculpa, mas tinha de ligar o meu laptop e ligar à net e isso dava muito trabalho, lol). A (n)ana está aqui ao lado a dormir (com uma moca de minis e João Pires) e o Manel já a dormir na sua cama. É assim que me recebem em Lisboa! E eu ainda a conseguir ver o Amistad.

E assim entra o porquê deste post. A certa altura do filme o meu actor preferido (Anthony Hopkins) profere as seguintes palavras, mais ou menos, não ipsis verbis - um apelo não é sinal de fraqueza! - Amei! Simplemente Amei!

Eu sei que não é, sei mesmo, mas para mim sempre pareceu. Tem dias que penso: Pinheirinha não é porque precisas dos outros que isso faz de ti fraca! Eu sei que não. Eu preciso sempre dos outros, todos nós precisamos, mas daí até dizer Help vai uma grande diferença. Ou não! (Não sei se já repararam, mas passo a vida a dizer "ou não". Porque será?)

Amanhã vou acordar e continuar a pensar o mesmo, que sou uma fraca por pedir ajuda. Mas pior, vou continuar a não pedir ajuda, só o farei em casos de catástrofe, red code mesmo. Quem me conhece bem percebe facilmente os meus pedidos de ajuda subliminares, mas também só os faço a quem me conhece bem.

Contudo, o mais giro de tudo é que enquanto escrevia este post o Amistad acabou, eu mudei de canal e no TVC2 estava a dar o Em Busca da Felicidade! Parece mesmo que vou ter de mudar a minha filosofia de vida!!! Ou não!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Porquê? Humm… porquê? I

Era e continua, certamente, a ser uma das minhas palavras preferidas: porquê. (Os advérbios em geral e os de modo em particular são outras das minhas palavras favoritas, não me perguntem é porquê, porque não saberia responder. Só sei que sempre que posso, zás, lá introduzo um. Manias...) Sim, porquê?

Aos 6, 7 anos a melhor professora que alguma vez tive, a da primária – honra seja feita à professora Luísa que bem podia ser santificada – já me apontava como a Mafaldinha da turma, não fosse eu já muito contestatária. “Porque é que os rios descem para o mar e não é o mar a subir para os rios? Porque é que Espanha tem um rei e nós não? Porque é que tenho de começar uma resposta a uma pergunta que comece por porquê com um porque?”. Em casa não me lembro muito bem, mas devia ser a mesma coisa, isto porque, a certa altura, o meu pai deu-me um livro cujo título era Porquê?. Hoje lembrei-me dele com saudades e fui procurá-lo. No caixote da Bela Adormecida, da Cinderela, de alguns Astérix, dos Contos do Gato Charabiá, da Menina do Mar, da Fada Ariana, dos livros da Disney, das colecções Bem Crescer Bem Viver e da Condessa de Ségur, lá encontrei o Porquê?, aquela que deve ter sido a minha bíblia durante alguns anos. (Que nostalgia me assolou a mexer naqueles livros todos…)

Ao folhear as 188 páginas do livro encontrei 500 questões e 1000 respostas que me satisfizeram há uns 20 anos atrás. Hoje, para além de ter muitos mais porquês para ver respondidos, algumas respostas não me pareceram as mais correctas. Outras ainda extremamente lógicas e umas quantas incompletas. Senão vejamos os seguintes exemplos.

“Pergunta 52 – Porque se faz casacos com peles de animais? Há animais que vivem em regiões muito frias, protegidos apenas pelo pêlo, que é muito quente. Daí surgiu a ideia de fazer com a pele desses animais casacos de Inverno. Por vezes custam muito caro, mas muitas mulheres compram-nos pela sua beleza e real protecção.” E podiam ter escrito um pouco mais de yada, yada, yada, que no fim eu responderia a isto muito melhor dizendo apenas: porque há pessoas que às vezes não pensam, porque se não lhes pesa na consciência ter um animal morto a embelezar os ombros, porque não matam os seus caniches ou os seus são bernardos e os pões às costas? Sempre ficava mais barato. A burrice humana mexe-me com os nervos de uma maneira inexplicável.

"Pergunta 147: Porque se pode beber sumo de uva à vontade e vinho não? Não tendo fermentado, o sumo de uva não contém álcool. O álcool contido no vinho é nocivo à saúde, principalmente à das crianças, ao passo que o sumo de uva é delicioso e nutritivo. (…) O álcool é um alimento de reduzido valor nutritivo e a sua ingestão repetida converte-o num veneno que prejudica o organismo, destrói lentamente as células e age sobre o sistema nervoso.” Calma, eu não me ando a envenenar. E garanto-vos que se não fosse o absinto, muitos dos génios literários que nos enchem as prateleiras nunca lá tinham chegado. Já para não falar nas inúmeras noites divertidíssimas à volta de packs de minis em casa do meu Migas e da minha Bé! Corre o boato, há uns anos para cá, que eu abri 3 garrafas de vinho num espaço de mais ou menos 20 minutos. As más línguas dizem que abri uma e enchi o copo. Acabei de beber esse copo e abri outra garrafa. Enchi outra vez o copo e quando o terminei, não satisfeita abri outra garrafa de vinho. Das três uma, ou estão a mentir, ou apanhei uma borracheira tal que já não via as garrafas, ou eu sou uma pessoa muito chique, só bebo um copo por garrafa de vinho. De qualquer das formas, crianças garanto-vos que o vinho não é veneno!

“Pergunta 156: Porque dizemos que “ não há rosas sem espinhos”? Ao apanhar uma rosa, encantados pela sua beleza e pelo perfume, podemos picar-nos nos seus espinhos. Mesmo com o que é bom, devemos ser cuidadosos. Assim, se comermos exageradamente chocolate, que é bom, podemos ficar doentes.” Team, não te faz lembrar nada? Só te falta transformar as tuas analogias em ditados populares. Garanto-te que tens futuro! ;)

“Pergunta 160: A Terra já existia antes de haver gente?” A resposta é a que todos nós já conhecemos, mas agora coloco eu duas questões: porque é que havia Terra se não havia gente? E para que é que ela existia se eu não estava cá, por exemplo? LOOOOOL. Quando digo eu, digo vocês, os que me rodeiam, não estou a ser assim tão egocêntrica, pois não? E ainda pergunto mais: quando eu morrer fará sentido a Terra continuar a existir? Humm… não me parece. Aliás não percebo como o mundo conseguiu chegar até 1980 sem mim, não percebo, simplesmente transcende-me.

“Pergunta 204: Porque crescemos? Crescemos durante muito tempo para deixarmos de ser crianças e transformarmo-nos em pessoas adultas com filhos, profissão e responsabilidades.” Ainda hoje meia volta lá estou eu sempre a fazer esta pergunta a mim própria, porquê? Porque é que temos de crescer? Eu adoro responsabilidades, adoro que me ponham um peso em cima para carregar, é sinal que confiam em mim e que sabem que aguento bem esse peso, mas daí a crescer… Estou a exagerar, obviamente (estão a ver? Mais um advérbio). Logicamente que prefiro os meus 28 aos meus 14, primeiro porque me lembro quão bons foram os 14, depois porque os 14 seguintes trouxeram um conhecimento impossível de adquirir se não passasse pelos 16, 21, 25 e 27 e ainda porque sei que os 28 mais que aí vêm serão os melhores que poderia ter. O futuro será bom, tenho a certeza, mas eu sou uma saudosista e crescer implica passar de um estádio ao outro sem que se possa voltar atrás. Queria tanto ser omnipresente e omnitemporal. (A parte dos filhos é que continua a não me agradar muito, prefiro afilhados e "sobrinhos")

“Pergunta 205: Porque choramos quando estamos tristes? (…) Uma notícia má, uma dor ou uma contrariedade desencadeiam um conjunto de reacções emocionais. Reflexos elaborados pelos núcleos cinzentos centrais do cérebro provocam a emissão de lágrimas, por vezes acompanhadas de gritos e tremores. Uma outra região do cérebro, o córtex, sede da vontade, permite controlar as manifestações de sofrimento.” E eu sou doutorada no córtex… ou não. A questão devia ser: porque choramos e não porque choramos quando estamos tristes. Eu choro de felicidade e de tristeza. Em relação à primeira não me importo, já em relação à segunda…dá-me cá uma raiva. Choro de cansaço e de nervos, de arrependimento e de ansiedade. Mas sabem que mais? Rio milhões de vezes mais por cada vez que choro, porque a Vida é Bela! Finalizo com uma questão que me suscita alguma curiosidade: porque é que, ás vezes, quando estamos tristes não conseguimos chorar? A gerência agradece respostas.

“Pergunta 221: Porque se diz “olho vivo”?” Para não nos esquecermos de ir ver o Steve Carell a partir de dia 7 de Agosto, num cinema próximo de nós! AH AH AH AH AH!

“Pergunta 223: Porque sentimos calor quando corremos? (…) O esforço produzido pelos músculos durante a corrida provoca um aumento do consumo de energia no organismo. O coração bate mais depressa, a oxigenação do sangue é acelerada, as oxidações são mais rápidas. Há então aumento da produção de calor.” Perdi-me nesta explicação toda. Eles estavam a falar de quê? Correr? De repente pareceu-me que estavam a falar de outra coisa…

“Pergunta 274: Porque queima o sol a pele?” No mínimo esta pergunta é para gozar comigo. Queima? Não tenho dado conta. Cá para mim o sol é racista e se foi Deus que criou o Sol, Deus então também é racista. Por estas e por outras é que eu nunca poderia acreditar em tal entidade. A pergunta devia ser formulada diferentemente: Porque é que o sol demora umas três semanas a queimar a pele de Pinheirinhas, humm, porquê? Nós branquinhas sofremos tanto…

“Pergunta 327: Para que servem os pára-raios?” Não servem para nada, pelo menos é o que o Patrick e toda a população de Elmo pensa (desculpem, mas esta era só para quem vê o Men in Trees. Não resisti.).

“Pergunta 409: Porque é que hoje não é ontem? O tempo corre de maneira irreversível, do passado para o futuro. (…)” A pergunta pode parecer estúpida, mas eu até acho que faz algum sentido. Claro que a resposta desfaz qualquer anterior lógica da questão, no entanto, esta também não é senão emocional. Pois reparem bem. Porque é que gostaríamos que hoje fosse ontem? Porque sentimos falta de alguma coisa, porque gostaríamos de mais umas horas para viver alguma situação, porque o dia correu tão bem que gostaríamos de o repetir ou porque simplesmente poderíamos corrigir ou acrescentar alguma coisa a algo. Este é o exemplo perfeito de como o córtex is just a tiny little part of our being. O meu racionalismo diz duhhh quando leio esta pergunta, mas depois… tudo o resto se interroga: porque é que hoje não é ontem?

“Pergunta 445: Porque é que no Natal se ornamenta a casa com um pinheiro enfeitado?” Qualquer explicação é inútil, porque os PINHEIROS são nossos amigos :) e nunca, mas nunca se devia ter começado tal tradição. Eu não gosto de servir de ornamento, tenho pouca vocação para enfeite.

“Pergunta 447: Porque é que se diz mentiras no 1º dia de Abril?” A resposta que é dada relaciona-se com a mudança de calendário. No entanto, parece que a mais lógica será a seguinte: para disfarçar todas as outras que se contam durante o resto do ano. Quantas vezes mentimos durante o ano? Por mim falo e afirmo que muitas, na maioria das ocasiões, são mentiras pequeninas que não ferem ninguém. As piores são as que contamos a nós próprios. Porque o fazemos? Porque por vezes precisamos, porque adiamos um assunto mais um pouco, porque é mais confortável, para não darmos grandes explicações, porque a verdade nem sempre é a melhor opção. Mentira. A verdade é sempre a melhor opção, mas se calhar hoje não é dia de a manifestar. (Nem de propósito, o Windows Media Player toca a Modern Way dos Kaiser Chiefs cujo refrão canta assim: This is the modern way, Faking it everyday, Taking it as we come, We're not the only ones, Is that what we used to say, That this is the modern way?)

“Pergunta 464: Porque se beijam as pessoas? É uma maneira de mostrar às pessoas que se gosta delas. É também um meio de agradecer, ou simplesmente uma forma de polidez. Mas é realmente um prazer beijar as pessoas de quem gostamos.” Pois… vamos lá esmiuçar isto mais um pouco então. Obviamente que este é um livro para crianças e não convinha que se pusessem com grandes dissertações sobre os vários significados de um beijo. Sim, na maioria das vezes a explicação vai recair sobre o afecto que temos por alguém e a sua manifestação. Mas nem só isso é um beijo. Por exemplo, os autores do livro nunca poderiam dizer que às vezes um beijo pode significar…nada, rigorosamente nada, senão arriscavam-se a que alguém imediatamente perguntasse: então porque se beija? E aí era o cabo dos trabalhos, porque até eu que já beijei sem significado, não sei bem como o explicar e é aí que reside o verdadeiro problema. E mais uma vez estou a mentir. Claro que não beijei sem significado, a questão é que não me agrada de todo o significado que me levou a beijar e por isso mesmo prefiro pensar que o fiz sem significado. Digam lá a verdade: alguma vez conheceram alguém que construísse e destruísse teorias tão rapidamente como a Pinheirinha?

“Pergunta 480: Porque fazem os homens a barba todas as manhãs? A barba dos homens cresce também de noite. Assim, eles barbeiam-se de manhã para a fazerem desaparecer, para ficarem com ar limpo e pele macia e para não arranharem as pessoas que os beijam.” Palavras sábias, se bem que a questão que se impunha seria porque é que nem todos os homens fazem a barba todos, todos, todos os dias, humm? Ai, ai, vamos lá ver!

As perguntas que tenho para um novo livro são outras. Aquelas que todos nós temos, as que se não temos vamos ter um dia destes, as que já foram feitas por alguém algum dia, as mais banais das banais provavelmente. Mas isso só no Porquê? Humm… porquê? I I. To be continued…

sexta-feira, 27 de junho de 2008

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Os Olhos dos Outros

Os olhos de quem me interessa, não quaisquer olhos. Os teus e os teus. Os dele e os dela. Os vossos e também os outros. No fim, os meus que vêem os vossos.

Só vejo os que quero ver. Aqueles que me dizem que tenho um feitiozinho tramado, os castanhos que me apontam um coração do tamanho do mundo, os mais pequeninos que me chamam de preguiçosa, os que choram a rir com a quantidade de disparates engraçados que eu sou capaz de produzir.

Gosto dos olhos que sei que nunca me vão mentir, dos que sempre me vão amar e dos que me acalmam quando fico “estouvada”. Há ainda os que poucas vezes me viram, mas que eu admiro por verem longe.

Tenho ainda na memória a íris dos que não gostam de me ver chorar (e que sabem que ODEIO chorar), dos que procuram a criança que há e sempre haverá em mim e dos poucos, muito, mas mesmo muito poucos que reconhecem o cinismo impregnado em algumas das minhas palavras. Adoro os que se chateiam comigo, que me fazem ficar triste comigo própria, que me fazem pensar que ODEIO ficar triste e que no dia seguinte me aconchegam num abraço que me faz sorrir e pensar que AMO sorrir.

Tenho sempre comigo as pupilas repletas de partilhados guilty pleasures, os olhares a pedirem feedback, mas que nem precisam que eu pestaneje para que o recebam, as córneas de quem compartilha aquele único momento.

Depois… os que não quero ver, porque não preciso, porque não quero, porque tenho os olhos de quem me chama pedante intelectual e os de quem me aponta todas e mais algumas manias. Para que preciso eu de mais quando tenho os vossos?

Sou filha de pai e de mãe… e que grandes pais. Da mãe herdei o género e a bondade, do pai… bem, do pai seria tudo o resto, não fosse eu também vossa “filha”. E sou vossa “filha”, essencialmente, porque sou filha única de pais separados desde muito cedo. Nós que pertencemos a esta categoria, somos todos muito filhos uns dos outros. Dos biológicos vou herdar tudo aquilo que alguma vez eles e eu poderíamos desejar, o MEU caminho. De vocês… os passos que farão com que não percorra o MEU caminho sozinha. :)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Something shy about me


Shy that Way: Jason Mraz and Tristan Prettyman

terça-feira, 15 de abril de 2008

Orgulhosamente pecadora, mas nem tanto assim!

“Innocent? Is that supposed to be funny? An obese man... a disgusting man who could barely stand up; a man who if you saw him on the street, you'd point him out to your friends so that they could join you in mocking him; a man, who if you saw him while you were eating, you wouldn't be able to finish your meal. After him, I picked the lawyer and I know you both must have been secretly thanking me for that one. This is a man who dedicated his life to making money by lying with every breath that he could muster to keeping murderers and rapists on the streets! A woman... so ugly on the inside she couldn't bear to go on living if she couldn't be beautiful on the outside. A drug dealer, a drug dealing pederast, actually! And let's not forget the disease-spreading whore! Only in a world this shitty could you even try to say these were innocent people and keep a straight face. But that's the point. We see a deadly sin on every street corner, in every home, and we tolerate it. We tolerate it because it's common, it's trivial. We tolerate it morning, noon, and night. Well, not anymore. I'm setting the example. What I've done is going to be puzzled over and studied and followed... forever.”
É bem verdade, agora foi a vez do Vaticano seguir o exemplo. Não foi tão radical quanto este John Doe, mas que lá lhe apanhou o jeito castrador apanhou. Ou então não.

Perguntar a Bento XVI qual o seu livro de mesa-de-cabeceira seria imbecil. Já perguntar-lhe qual o seu filme preferido e arrancar-lhe a verdade verdadinha seria obra, obra para Pulitzer. Ora senão vejamos.

Jornalista (com uma lata tremenda que o levará direitinho ao quentinho Inferno) – Santo Padre, agora que os nossos leitores ficaram a saber que uma das tarefas que mais lhe apraz é ditar os artigos do L’Osservatore Romano, enquanto saboreia um arrozinho de cabidela, pode partilhar connosco o que faz nos seus tempos-livres? Vê filmes?
Santo Padre (enquanto limpa a boca e faz sinal para que lhe tirem o prato e tragam a sobremesa) – Mio Figlio, essa é una pergunta molto difficile de respondere. (Os pastéis de Belém que acabam de chegar quentinhos à mesa fazem salivar o jornalista) La verità es que io non vedo molti film. Ma que bello orologio avete voi. È un Bulgari? Mi piace los Rolex. Mi scusi, parlavamo de film. Mi piace lo Diece Ordini, con il più grande Charlton Heston. Ché forte e bello uomo. E ché corpo muscoloso. (Santo Padre come um pastel de nata de uma só dentada e nota-se uma pequena baba a cair, enquanto o seu olhar fica preso no corpo musculoso de um Heston com uma tábua na mão)
Jornalista – Calculo que aprecie os filmes dedicados a Deus, principalmente os dos anos 50 e 60, mas gosta dos mais recentes, aqueles que fazem de Deus uma entidade castradora, como Advogado do Diabo ou Seven?
Santo Padre (engasgando-se com o terceiro pastel de nata) - Mai non veduto esso. (O jornalista tenta tirar um docinho do prato, mas o Santo Padre bate-lhe na mão e deita-lhe um olhar diabólico)
Jornalista – De certeza que não viu? Então o que é que é aquilo que está em cima do leitor de DVD? Parece-me a capa do filme protagonizado pelo Brad Pitt e pelo Morgan Freeman.
Santo Padre – Quello es… es…es…non conosco che cosa è quello. Ma io posso parlare de mio libro favorito. Mein Kampf. (Assustado com o que disse, tenta resolver imediatamente o seu erro). Mein Kampf??? No, no, mi scusi, volevo dire, Mein Kampfbahn. Esso, esso, Mein Kampfbahn, perché mi piace molto il gioco del cálcio. E ora vado a fare un pisolino. Ciao.
Jornalista – Pois, pois… Estou a ver, estou.

Sem quaisquer intenções de ganhar Pulitzers estiveram a maioria dos jornalistas mundiais quando decidiram noticiar os “novos pecados mortais”. Eu, por exemplo, tomei conhecimento do caso através de uma crónica (crucificadora) na TIME, a minha mãe pela tv, outros pelos jornais, pelas rádios, pelaa Internet, etc. A notícia estava por todo o lado e fosse qual fosse o meio, o que nos chegou foi uma notícia que ou nos dava para rir à gargalhada, ou para nos indignarmos.

Comecei por rir.
De repente, além de não podermos cobiçar a mulher do outro (confesso que sempre foi um pecado que me deu jeito, visto que nunca cobicei a mulher de ninguém), de não podermos ceder à luxúria (coitado do Canibal), de não podermos comer feitos glutões (este dava-me jeito levar a sério), de não podermos olhar para o próximo como se estivéssemos bem acima dele (Mourinho vai parar ao Inferno a 200km/h), de não podermos olhar, com o sangue a ferver, para a senhorita que leva um Elie Saab ao casamento da nossa melhor amiga, de não podermos simplesmente passar por um mendigo e não lhe dar uns cêntimos dos nossos milhares de euros que temos nos bolsos e de finalmente não podermos vegetar no sofá durante todo o domingo, a ver aqueles filmes que já passaram pelo menos 20 vezes naquele canal, ainda parecia que iríamos ser castrados de tantos outros bens. Bens esses que a saber seriam: as drogas, o nosso larguíssimo buraco do ozono, as desigualdades sociais, nomeadamente na forma de ostentação daqueles que são obscenamente ricos, aquele fígado novo que nos impediria de morrer de cirrose, etc, etc, etc. Obviamente que se instalou o pânico na sociedade.

Não chegava o Bispo Gianfranco Girotti vir com estes novos pecados, lá do pequeno estado, que ainda cá em Portugal tinha apoiantes. O Padre Vaz Pinto afirmou o seguinte, relativamente a outros novos pecados, como passar demasiado tempo a ver televisão, navegar na internet ou ler jornais "Não há dúvida de que hoje há um gasto imoderado de tempo que leva muitas vezes à grande passividade, à distracção do mais importante. Não há o melhor uso da nossa vida, tempo e amor. (...) Quem passa a vida na informação acaba por não poder intervir no resto da vida, deixando coisas mais importantes: a mulher, os filhos, o desporto, a cultura e por ai fora”. Naturalmente. Vejamos o seguinte exemplo. O português chega a casa e ouve o seguinte da sua querida esposa “ Olá querido! Sabes, hoje fui ao mercado e os preços estão pela hora da morte, preciso de mais dinheiro amanhã. Já para não falar que até terça tens de pagar a prestação do carro, da casa e o colégio dos miúdos”. “ Pai, pai quero a nova PSP para os meus anos e não queria ser eu a dizer-te isto, mas o Benfica perdeu hoje com a Académica por 3-0.” Desolado com a vida que tem pensa “ Vou ver um filme na TV para ver se me distraio. Ai, não posso que é pecado! Ai que se morro vou para o Inferno! O melhor é ir ler as escrituras.” Claro, as escrituras além de lhe darem o dinheiro para pagar a casa, o carro, a educação dos filhos ainda vão fazer com que o Benfica venha a ser campeão.

No entanto, parecia que ainda havia alguém são na Igreja. D. Januário apelidou de ridículas as novas “leis” do Vaticano. “Se assim é, então eu sou um grande pecador. Leio muitos jornais, navego na ‘net’ o tempo que for preciso e vejo televisão, como toda a gente. No limite, há ‘defeitos’ em tudo. O futebol, por exemplo. Também pode ser um pecado. O dinheiro que se gasta num bilhete podia ser dado aos pobres. Até em gestos simples encontramos, se quisermos, situações pecadoras. Um indivíduo que passeia à beira Tejo, se calhar, devia estar com a tia no hospital ou a fazer companhia aos netos”.

Entretanto (finalmente) comecei a pensar que existia algo de errado nesta história toda, que a comunicação tinha falhado certamente. E foi quando fui ler o L’osservatore Romano, isto para fazer jus ao meu novo apelido de pedante intelectual. E eis senão quando… passei rapidamente ao segundo sentimento: o da indignação. Indignação com a minha pessoa, por ter feito o juízo fácil.

O Bispo Gianfranco Girotti como qualquer agente comercial vende o seu produto. Numa entrevista em que foram focados vários pontos, nomeadamente o papel de alguns órgãos do Vaticano, da visão dos fiéis relativamente à Igreja actual, abordaram-se as novas formas de pecado. Girotti fala na globalização e no cariz social que o pecado ganha. O que ele faz é uma chamada de atenção ao mundo e é também a tentativa de recuperar terreno, agora que os católicos passaram a ser o segundo maior grupo religioso do mundo. Quem é que, no seu perfeito juízo, não acha que é uma irresponsabilidade incrível o fosso social que se está a criar nas sociedades? Quem é que quer continuar a alimentar os desastres ecológicos? Quem é que acha que o Homem está cada vez mais altruísta? A meu ver não me parece que venha mal ao mundo por falarmos na responsabilidade social que cada um de nós deve ter.

Seguidamente, voltei a rir, mas um riso triste.
Se até aqui não via nada de errado nas palavras do Bispo, obviamente que não defendo que esta chamada de atenção se registe em campos como o da bioética e da liberdade pessoal (pelo menos naquela que não esbarra na liberdade pessoal do Outro). Aqui denuncio o meu carácter ateu e afasto-me galacticamente das crenças católicas. A negligência que é apontada, pelo Bispo, relativamente à ecologia e à justiça social é exactamente a mesma que a Igreja comete em relação às questões da investigação de células estaminais, da procriação medicamente assistida, da clonagem terapêutica, do uso do preservativo, entre muitas outras. No meio disto tudo, nem sequer vou perder tempo a dissertar sobre a hipocrisia que ficou impregnada na expressão obscenamente rico.

Os espelhos por terras italianas partiram-se há já muitos séculos atrás e o mesmo aconteceu com os binóculos que avistavam África. Se a nova forma de pecado e a globalização fazem o Vaticano reflectir nas novas repercussões sociais, porque não o fará agir e dar uma oportunidade a si próprio? E consequentemente aos seus fiéis? O grande dogma da Igreja é pensar que é o mundo que tem que se adaptar a ela e não o contrário. Enquanto assim for não haverá chamadas de atenção suficientes que a possam chamar à razão, nem indulgências infinitas que a possam salvar, porque o risco maior é ela desaparecer e não os seus discípulos fugirem dela.

O Papa afirma que se está a perder a noção de pecado e eu não poderei concordar mais com ele. Esperemos é que Deus, um dia destes, não olhe para o Vaticano e o veja como uma Sodoma ou uma Gomorra. Se tal acontecer apenas tenho um pedido: por favor Salve a Capela Sistina.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Crónica de um voo anunciado (atrasado e avariado)

“21 de Março, 09:40h – Aeroporto Sá carneiro

Adoro aeroportos, simplesmente adoro! E mesmo que não viaje, como acontece hoje. “ Pede-se ao Senhor Albano… e à senhora Ana…o favor de se dirigirem com urgência à porta 33.”

Há precisamente 15 dias atrás vivia, uma excitação diferente, a excitação de quem ia andar com a cabeça no ar, literalmente. Quer dizer, devo confessar que não foi com a excitação que tanto me caracteriza quando faço alguma viagem, mas isso explicarei numa próxima vez. Há 12 dias atrás, a excitação de quem estava a pousar os pés no solo que mais conheço e que é responsável por grande parte da minha personalidade. O regresso é, umas vezes, uma aterragem de entusiasmo com um pensamento que fica a quilómetros de distância, outras, um sorriso que pousa coberto por um nevoeiro melancólico. “Pede-se ao Senhor Albano o favor de se dirigir com a máxima urgência à porta 33.” (o Senhor Albano ou morreu ou então é melhor arranjar uma muito boa explicação.)

Nos aeroportos a volta ou a chegada, parece-me que são vividas de forma mais intensa que numa estação ferroviária ou numa gare de camionagem. Naturalmente, porque a este lugar estão associadas viagens de longo percurso. O coração ficar mais apertadinho se estivermos a dois mil quilómetros de distância do que a trezentos. No recinto das partidas, isso nota-se nos olhos que se distanciam daqueles que vão partir, nos narizes marcados no vidro que transparece a pista, no beijo último que anseia que o próximo seja bem mais longo, no abraço e lágrimas que não querem ser repetidos.

No local das chegadas, lembro-me sempre do início do Love Actually. Sempre.

Os olhares que pousam incessantemente na porta de saída dos passageiros, os braços abertos ansiando por fechar, as palavras que saem muitas vezes mais facilmente em gestos e em salgadas emoções. Aqui também se espera e espera. Hoje pela Paula, a minha tia preferida, (faço esta piada há anos e para quem não vê piada nenhuma na frase devo explicar que a Paula é a minha única tia). Voo atrasado 45 minutos.

Enquanto esperamos que apareça uma pessoa a empurrar uma mala vermelha maior do que ela, eu e o pai olhamos, observamos e “piadamos”. Os pinguins cor-de-rosa da Mateus Rosé parecem acreditar que “Taste Matters”, a Super Bock sempre muito hospitaleira com o seu “Welcome Bock”, o cãozinho a uns 3 metros de nós que a mim me faz despertar um sorriso – “oh, olha, só neste aeroporto é que deixavam entrar um cão para vir receber a possível dona” – e ao meu pai faz despertar indignação – “é mesmo a vaidade do Homem… trazer para aqui o animal. Até está assustado”, as duas árvores humanas a saudar quem chega (hoje é dia da árvore).
O patriarca – Próxima “rodada” é de Colónia.
…Esperamos mais uns segundos e lá começaram a sair algumas pessoas.
Pinheirinha – Têm cara de alemães, não têm? E têm um traje típico, não têm?
O patriarca – Então não se vê logo que são dos arredores de Colónia?
Somos uns cromitos, ih ih. E aqui está a Paula.”

Partida ou chegada? Não interessa. É nestes locais que se vê a vida, aquela que fervilha, aquela que nos tira do SNOOZE da maioria dos dias. TRIIIIIMMMMMM!!! Toca a despertar e acordar, literal e metaforicamente, para a vida. Perder o avião hoje pode não ser problemático, mas perdê-lo constantemente faz-nos desperdiçar milhas no cartão da felicidade.


P.S – Pois, estava atrasado, porque tinha estado avariado. E a cara da Paula era assim como que” Ufa, consegui chegar.” Quando o avião estava em Colónia , alguns segundos depois de ter começado a acelerar pela pista fora, teve de travar a fundo e voltar ao local onde tinha estado estacionado. O Comandante resolveu explicar que tinham identificado uma avaria no computador e que iam tentar arranjá-la através de instruções por telefone, visto que não tinham técnicos da companhia presentes no aeroporto de Colónia. Asseguraram aos passageiros que não tinham motivos para se preocuparem, porque basicamente o que iam fazer era um reboot do computador. Tranquilizador, não acham? O certo é que passados uns 20 minutos o problema estava resolvido e o avião pronto a arrancar.
E eu a pensar que as aventuras só aconteciam à little pinetree. Afinal, a família foi toda abençoada. :)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Todos os dias são bons dias para amar

Um pequeno conto :)

- Que queres jantar? – perguntou Alexandre enquanto abria o frigorífico.
- Não sei, algo repleto de calorias. Pizzas. Que te parece? E quero algo doce, uma sobremesa com milhões de calorias.
- Também não me admira nada que só queiras comer isso, não tens mais nada no frigorífico. Como é que consegues? Um dia destes ainda te arrependes.
- Não arrependo nada, sabes perfeitamente que tenho cuidado com a boca. Mas hoje é um dia especial, apetece-me ser marota. Por acaso não estás a querer insinuar nada, pois não?
- Sim, estou a insinuar que estás muito gorda. Que pareces uma baleia e que daqui a pouco não passas nas portas. – Respondeu Alexandre com um ar de brincadeira.
- E se tivesse assim tão gorda? Qual era o problema? Ias-me amar até ao fim das nossas vidas, não ias? Eu pelo menos adoro a tua “ pança”. – Disse Inês num tom carinhoso.
Alexandre fechou a porta do frigorífico, dirigiu-se à sala, deitou-se por cima de Inês e disse:
- Amar-te-ia mesmo que não existisses… Amar-te-ia mesmo que eu vivesse na Idade Média e tu no Renascimento… Amar-te-ia mesmo que fosses uma marciana….Amar-te-ia mesmo que eu fosse o azeite e tu a água… Amar-te-ia mesmo que eu fosse o Cunhal e tu o Salazar… Amar-te-ia em tempo de guerra e de paz, com pizzas ou sem pizzas… Sabes que te amo, não sabes?
- Sei… E também sei que te amo, hoje, ontem, amanhã, como Inês e tu como Alexandre, com a tua pança, com o teu brilho nos olhos, com as tuas palavras que tanto amo, com os nossos quadros, com tudo que faz de ti o Homem que amo para toda a minha vida. Mas, principalmente… por seres o Alexandre que só eu conheço.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Relíquias do século XXI

Eram 11.20 da manhã, ia a pé para o Carvalhido, e eis senão quando vejo uma saca de pão pendurada na maçaneta de uma porta. Aí está uma visão que já não tinha há muito tempo. Tenhamos em conta que estou a falar de uma visão no meio da cidade do Porto. Esta é uma imagem que ainda pode ser encontrada em muitos locais pelo país fora, mas sobretudo em localidades pequenas. Agora numa cidade ou a memória me atraiçoa ou então nunca vi (suponho que atraiçoa, pois quase que jurava que na rua da minha avó já vi este quadro) e trata-se de um verdadeiro tesourinho, nada deprimente.

No entanto, se pensarmos bem, também não se trata de algo assim tão inédito. Pelas minhas bandas ainda passa a carrinha da peixeira a apitar por todos os lados em sinal de alerta de que o peixe está fresquinho. É só esperar uns minutos e lá vão as donas de casa pescar o que de mais genuíno o mar nos dá. Naturalmente, seguir-se-á o discurso inflacionado dos euros que teimam em ser cada vez menos nas carteiras das senhoras, mas a fotografia, não fosse a cores, seria igual a uma qualquer que encontramos no baú dos nossos papás.

Melhor ainda. O homem das batatas. É verdade, o homem das batatas (e arrisco das cebolas também). É ao som de Quim Barreiros, a sair de um megafone (o som, não o Quim Barreiros) encimado no camião, que normalmente sabemos que é dia de comprar batatas. Baratas e boas, que até parecem castanhas. E os sacos de 25kg, que ocupam grande parte da despensa, não dão jeito nenhum, mas lembram-nos que o Porto é uma cidade, ainda, com qualidade de vida. Se não vamos à feira, a feira vem até nós. Sim, porque mesmo a fruta tem presença marcada no fim das ruas, onde será difícil a polícia passar e obrigar a vendedora a arrumar tudo imediatamente enquanto guarda no bolso uma multa por venda em local proibido.

Não estamos aqui a falar de provincianismo, mas sim de pequenos luxos, a que os mais cínicos não saberão ou não quererão dar valor. É a vida recheada de vida, de boa vida. São as pequenas cerejas em cima dos bolos que são os nossos dias, as tiras de chocolate em cima do gelado que é o nosso mundo. É a cidade a manifestar-se e a dizer que ainda é comunidade. E já são tão poucas…
Há lá coisa melhor que viver no Porto :D

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

DeLiCiOsAmEnTe SiNiStRo

Ainda inspiradíssima pela minha máscara de Carnaval ( Willy Wonka, que para quem não sabe – muita gente não sabia de que raio é que eu estava vestida – é o dono da fábrica de chocolates do filme de Tim Burton, Charlie and the Chocolate Factory ) lá fui eu ao cinema ver Sweeney Todd – The Demon Barber of Fleet Street.

Ora como toda a gente sabe, e se não sabe devia saber, Fleet Street foi outrora a Meca do jornalismo inglês e mundial, já que foi aí que o primeiro jornal foi criado – The Daily Courant – mas nem só por isso esta rua ficou conhecida. Foi também local de “trabalho” de Benjamin Barker, ou melhor, Sweeney Todd.

Esclareçamos uma coisa antes de mais. Sou fã de Tim Burton. A criatividade e a originalidade são das características que mais prezo na sétima arte ( e em qualquer trabalho ). Amo a genialidade. Gosto de ser surpreendida. Mas isto não quer dizer que faça o que fizer Mr. Burton eu vá gostar. A genialidade não nos acompanha 24 horas por dia, 365 dias por ano. Nightmare Before Christmas é genial. Eduardo Mãos de Tesoura é brilhante. Batman é bom. Marte Ataca é hilariantemente Burtiano. Charlie and the Chocolate Factory é um Bem-vindo ao mundo encantado de Tim muito bom. Corpse Bride é simplesmente fantástico. Sweeney Todd é…

…aquilo que podemos esperar de uma mente que não pára à procura do que mais nos poderá surpreender. É um musical, a cinzento, e outras tonalidades da mesma família ( cinzento-esverdeado, cinzento-azulado ), e para alegrar os que na sala de cinema não encontraram o que esperavam é também VERMELHO. É o vermelho do sangue que pulsa vingança nas veias de um fabuloso barbeiro, que tem corpo de Johnny Depp, e o vermelho que jorra das gargantas brutalmente barbeadas e que tinge o soalho de madeira do salão. Se houvesse letreiro a indicar o estabelecimento da matança deveria ter algo do género escrito Don’t you ever let down your guard. Sure you want a shave? ;)

Devo dizer que se há coisa que me impressiona realmente são cortes, sejam de facas, vidro ou qualquer outro material ou objecto. Viro sempre a cara para o lado ou ponho a mão à frente para não ver. No entanto, não ver as agridoces navalhadas de Mr. Todd seria sacrilégio. Aliás, confesso que me surgia um esgar sorridente no canto da boca de cada vez que ele afiava a lâmina, como que se estivesse atrás da porta da barbearia, a espreitar, a esfregar as mãos, a lamber a saliva que me escorria da boca e a pensar” Humm mais uma…”.

Hoje não me apetece contar-vos muita coisa, mas para quem ainda não viu o filme aqui fica uma pequena imagem. O Eduardo de há uns 15 anos atrás com mais uns 20 anos em cima, mas que em vez de tesouras tem navalhas, não como substitutas das mãos, mas como complemento destas - At last! My arm is complete again!. Acrescentemos um really weird moralizador Willy Wonka transformado em serial killer que canta ao mundo ♪ I wil have vengeance, I will have salvation ♪, qual cowboy a puxar suavemente o casaco para trás e a mostrar as suas armas ( navalhas ). Como dono da fábrica de chocolate mais excitante do mundo, Johnny Depp explicava às criancinhas o que era canibalismo, como assassino com voz negra - ♪ They all deserve to die, tell you why, Mrs. Lovett, tell you why! Because in all of the whole human race Mrs. Lovett there are two kinds of men and only two. There's the one staying put in his proper place and one with his foot in the other one's face. Look at me, Mrs Lovett! Look at you! No, we all deserve to die. Even you, Mrs Lovett, even I! ♪ – serve canibalismo on delicious meat pies. LINDO!!!

A última obra de Tim Burton é deliciosamente sinistra e é, tenho de o repetir, um musical. Sim, os trailers enganam, ali canta-se o tempo todo. E cantam-se estes últimos versos.
There was a barber and his wife,
And she was beautiful
A foolish barber and his wife,
She was his reason and his life
And she was beautiful,
And she was virtuous,
And he was, naive.

P.S – Parece que já sei o que vou vestir no próximo Carnaval ;)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Sentei-me na berma da estrada…

Sentei-me e não mais me levantei. Sentei-me e fechei os olhos. Há dias em que não me apetece sequer ver os carros a passar. Eles seguem…para a frente e para trás e por vezes em choque uns com os outros. E eu ouço-os. É um Crash, tal e qual como no filme, são as nossas vidas a estalarem, sem grandes fogos de artifício. Apenas BUUUUMMM!!! Mais uma. E nem damos por isso. Uma brecha aqui e outra ali. Uma infiltração em cima e outra em baixo. BUUUUMMM!!! Mais uma. Mossa aqui, mossa ali, furo atrás, furo à frente. Não há Humvee que resista e mais vale começar quase tudo de novo, porque começar do zero já é impossível.
Plim, passo de mágica, parece que se está a recompor e BUUUUMMM, varinha partida.
Lembrei-me…ainda tenho um coelho na cartola! Meto lá a mão e caio lá dentro. Aiiiiiiiii... qual Alice no País das Maravilhas, aterrei no mundo que não queria e que é o meu.
Amanhã tenho de comprar mais pozinhos de perlimpimpim.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Being Wes Anderson

Wes Anderson, muito mais que interjeições verbais, provoca-me interjeições faciais. Todo ele é um wow, um wow que me faz arregalar os olhos e abrir um sorriso. Nada disto seria de espantar (pois como toda a gente sabe eu sou um sorriso 24/7), não fosse o simples facto de eu não ser nada dada nem a metáforas nem a subtilezas. Daí provir o meu fascínio por este contador de estórias.

Anderson não se relaciona directamente com o mundo que o rodeia à espera que este o perceba, faz filmes para ele e não para os outros. E nos dias que correm isto é já de si uma atitude excêntrica. O imprevisível e o melancólico não são bons chamarizes para uma ida ao cinema. Ou sim, se forem captados pela câmara de Wes. Ou se adora ou se detesta, não há meios termos, just the way I like.

Em The Darjeeling Limited
está lá tudo, o imprevisível, o melancólico, as pausas, os longos planos fixos, que parecem não trazer informação relevante, os diálogos “diferentes” (principalmente em Hotel Chevalier), a música (espero que estejam a ouvir) e o minucioso cuidado visual. Ah, particularmente neste filme temos as cores, meu deus, as cores. (Atenção aos daltónicos e aos sensíveis a cores fortes. Aos primeiros porque não vale a pena verem este filme, aos segundos porque são capazes de ferir a vista.) Concluindo, tudo aquilo que é necessário para que em apenas 5 segundos percebamos que estamos no reino de Anderson.

Sinopsemos então. “Três irmãos norte-americanos, que não se falavam há um ano, lançam-se numa viagem de comboio através da Índia no intuito de se encontrarem a eles próprios e reatarem os laços familiares – tornarem-se novamente irmãos como eram antes. Porém, a sua “busca espiritual” desvia-se rapidamente do caminho proposto (por causa de acontecimentos envolvendo analgésicos ilegais, xarope indiano para a tosse e spray pimenta) e eles acabam por se ver abandonados no meio do deserto com onze malas de viagem, uma impressora e uma máquina de plastificar. Subitamente inicia-se uma nova viagem não planeada.” – in UCI Cinemas. Mas como as sinopses não me chegam e eu gosto de falar sobre filmes, lá vou eu estragar-vos mais um (mas acreditem que não vos vou contar tudo, seria impossível, Anderson é visual. Mesmo assim, já sabem, se são susceptíveis... não leiam).

The Darjeeling Limited
é precedido por uma curta-metragem chamada Hotel Chevalier, escrita também por Anderson, e que é uma espécie de prólogo ao filme. Primeiro parêntesis: Natalie Portman e Jason Schwartzman. Portman como veio ao mundo e Schwartzman sem despir sequer o casaco.
Natalie – Whatever happens in the end, I don’t want to lose you as a friend.
Schwartzman – I promise I will never be your friend, no matter what ever.
Natalie – If we fuck, I’m going to feel like shit tomorrow.
Schwartzman – That’s ok with me.
Natalie – I love you. I never hurted you on purpose.
Schwartzman – I don’t care.
E quase tudo o resto é silêncio.

Se em O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford was all about the characters, this time is all about the story.
Os irmãos Whitman são disfuncionais, aliás a família Whitman é disfuncional. Francis (Owen Wilson) sofreu um “acidente” com uma moto e está todo partido (weird, se pensarmos que o próprio Owen Wilson se tentou matar no Verão passado), é rico, possessivo e controlador, muito controlador (tal e qual a mãe). Peter (Adrien Brody) parece ter parado nos anos 80, pois não larga os óculos de 15cm de diâmetro que eram do seu falecido pai, culpa-se pela morte deste e tem medo de ser pai. Jack (Jason Schwartzman) é um escritor coração de pedra, inseguro, que só se relaciona com mulheres superficialmente e que baseia todos os seus romances em pessoas reais. O pai deles morreu há um ano atrás. A mãe fugiu após a morte do pai e tornou-se freira. Acrescentemos a tudo isto o facto de a acção se desenrolar na Índia (a esta hora aposto que já estão com os cabelos em pé).

Idiossincrasias à parte, todos se amam uns aos outros e só por isso estão juntos na viagem terapêutica, ou pelo menos numa viagem que se pretendia terapêutica. Para que isso se concretizasse, os três irmãos só precisariam de não levar com eles as 10 malas que os acompanhavam, a derradeira personagem do filme, o passado. As malas (que me fazem lembrar imenso o esquilo do Ice Age, porque parecem não fazer parte da história e estão sempre a aparecer nos momentos mais inesperados) são nada mais nada menos que a metáfora perfeita do peso das vidas deles. E acreditem, eram 10 malas bem cheias.

À medida que o tempo vai passando e eles vão descobrindo que não confiam uns nos outros, que na realidade já não se conhecem e que o amor que nutrem não chega para que convivam saudavelmente, descobrem que nem tudo nas suas vidas é negro. E é através da vida de outros que percebem que afinal chegou o momento de darem mais uma hipótese a eles mesmos (não vou contar que vidas e que acontecimentos os fizeram abrir os olhos). A mãe é aqui decisiva também: “ Let’s make an agreement: a) we’ll get an early start tomorrow morning and try to enjoy each others company; b) we’ll stop feeling sorry for ourselves. It’s not very attractive; c) we’ll make our plans for the future.”

Finalmente, o peso ficou para trás - “Dad's bags aren't gonna make it” (brutal).
E a viagem continua. The End.

Eu acho que foram as cores que os salvaram... O que eu não dava para passar uns dias com Wes Andeson e perceber se os filmes dele são como os livros do Jack Whitman. ;)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Uma série de coisas que não interessam nada

Apetece-me postar. Algo. Que não interessa nada. Ou não (que neste caso passa a dar um sentido positivo à frase anterior. Pronto, típico, já comecei a complicar).

Para quem ainda não sabe, estou...(rufos, pauuuuuuusa) morena :) Oui, oui, morrená (ler com sotaque francês sff). É certo que já não sei não ser loira, mas de vez em quando não faz mal nenhum parecermos mais inteligentes. E já que estou a entrar na fase de procurar emprego (sim, porque isto é por fases. Depois desta vem a fase do despedir-me) não me pareceu nada má ideia mudar de ares. E oba oba, foi cá uma mudança. Num dia deito-me loira, de cabelo encaracolado e comprido, no outro acordo de cabelo castanho (super escuro), liso e mais curto. However, I'm the same old Pinheirinha.

Estéticas à parte e para provar que continuo a mesma (embora a minha mãe diga que tem outra "nina" em casa) fica aqui uma música em que ando viciada.




Além de estar na fase de emprego, estou também na fase de precisar de sair do Porto por uns dias, espairecer. Normalmente chega ir até Afife um fim-de-semana, mas na realidade apetece-me é ter um tempo de bela javardice. Ver gente nova, rir até não poder mais, beber uns dois barris de cerveja, etc. Enfim, não pensar. Por isso, se tiverem sugestões...feel free.

(Peço desculpa pela interrupção, estava a telefonar à minha menina - Cláudia - que faz aninhos hoje :D PARABÉÉÉÉÉÉNS AMIGA - AMO-TE MUIIIIIIIITO)

Continuemos então. Ando a ressacar Prison Break. Vi 9 episódios em 3 dias e agora acabou-se-me a dose e ainda para mais num episódio de ficar com os cabelos em pé: o Mahone saiu de Sona e o Scofield também. O Whistler está a dizer mal da vida dele e o Lecchero está-se a ver negro para arranjar um plano. Oh pá, eu até sou uma pessoa que compreende perfeitamente os argumentos dos argumentistas, aos argumentistas o que é dos argumentistas, porque isto de escrever umas cenas não é pêra doce ( se bem que era o melhor trabalho que eu podia ter, era só transportar esta minha imaginação para o papel ), mas pá... deixar uma pessoa à espera de facadas, de uns olhos azuis frios e calculistas, das camisas sempre molhadas por causa do calor e humidade do Panamá, de um sotaque australiano sempre a sussurrar ameaças... Já chega, está-se a tornar um pouco erótico.

Preciso de mais estantes ou prateleiras. Não sei onde as hei-de pôr, mas também já não sei onde pôr tanta revista e livros ( quer dizer, não são assim tantos... para quem gostava de ter uma Alexandria ). Depois de em Dezembro ter descoberto o IKEA, e de parecer a Mãe-Natal quando saí de lá, não penso noutra coisa ( hipérbole ) a não ser redecorar a casa. E se comprar mais estantes e não as encher, que remédio vou ter eu senão comprar mais livros ( círculo vicioso ).

Vou ter de parar por aqui, porque entretanto o Senhor Mal resolveu pôr-se aqui a falar comigo no Messenger e perdi o fio à meada.

Assim sendo, despeço-me com amizade ( uma das minhas memórias de infância é sem dúvida o Engenheiro Sousa Veloso com aquele cabelo e voz inconfundíveis ) e com uma música que adoro. Senhores e Senhoras, Caramel.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O frio do Missouri

Hoje também está frio, aqui no Porto.
Feito o ponto de situação meteorológico no norte do país falo-vos agora dos ventos gelados que passaram pelo Missouri, nos finais do século XIX. Isto porque ontem fui ver The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, filme que gostei e ao qual dou ( ver tabela de rating no final do post - looool, pronto, confesso, não resisti a fazer esta pequena piada, muito boa, diga-se de passagem ).


Desde já aviso que se são daqueles que mal alguém começa a falar sobre um filme dizem logo “ Não contes, não contes nada, porque eu ainda não vi o filme”, enquanto põem as mãos nos ouvidos e fecham os olhos, como se soubessem ler os lábios e não o quisessem fazer, então o melhor é mesmo não continuarem a ler.

Era uma vez um homem chamado Jesse James ( Brad Pitt ), um impiedoso ladrão e assassino que por onde quer que passasse fazia tiritar os dentes dos que o rodeavam, pelo menos daqueles que sabiam quem ele era, pois Jesse James vivia sob várias identidades falsas e aos olhos do comum cidadão ele era um simpático e educado homem da sociedade.

Era uma vez Robert Ford ( Casey Affleck ) um dos elementos do último bando criado por Jesse James, franzino, 19 anos, cobarde, que desejava nada mais nada menos que ser o impiedoso ladrão e assassino Jesse James.

Apresentados que estão o bom e mau falta só encontrar o vilão. Num exercício de lógica fácil de fazer, se juntarmos a esta pequena apresentação o título do filme, rapidamente percebemos qual destes dois é o vilão. O Jesse James, certo? Ou não. Vamos então acrescentar mais alguns elementos.

No início dos anos 80 do século XIX a lenda criada à volta do larápio deu origem a páginas e páginas de jornais, a romances mais ou menos fantasiados e fez com que o nome de Jesse James chegasse à Europa como se de um herói se tratasse. Tudo isto sabemos nós olhando para debaixo da cama de Robert Ford. Empilhado numa pequena caixa está o grande sonho do jovem rapaz, ser um dos homens "James" e provar ao próprio que está à altura de grandes desafios. O problema aqui é que o nosso homicida ou goza com o puto a toda a hora ou então ignora-o, fazendo com que este se sinta completamente humilhado.

Já sei agora estão a pensar que o vilão é o Robert, porque matou por despeito. Mas e então e o Brad Pitt barbudo que continua a matar os seus amigos mais próximos com uma frieza digna de fazer parecer um iceberg o deserto do Sahara? Continuemos. ( A esta hora já tenho dois ou três amigos a pensarem “ pronto… mais um post da Pinheirinha que nunca mais acaba. PORQUE É QUE ELA NÃO ESCREVE MENOS????” )

O filme tem um narrador que nos vai fazendo chegar os remorsos de alguém que passou muitos anos a fugir de cidade para cidade, a contabilizar os olhares dos que fechariam os olhos para não mais verem a luz do dia, ou qualquer outra luz, e a viver sob a dúvida de saber se vai poder passar o resto da vida a corresponder à lenda que é criada à sua volta. Está cansado, muito cansado. Enquanto isso, Robert percebe que nunca será respeitado pelo seu herói e decide que a sua vida tomará o rumo certo. E é aqui que…ele mata James? Será? De repente, lá de cima, da última fila da sala de cinema, pareceu-me fazer mais sentido o filme chamar-se ( se não querem mesmo saber o final do filme, por favor, não continuem a ler ) The Suicide of Jesse James by the Fearful Charlie Ford. Não, não me enganei no nome. Trata-se do irmão de Robert.

Os últimos 15 minutos da película giram à volta das consequências da morte da maior lenda americana da época. A sociedade não vive sem vilões, porque senão como nos qualificaríamos de bons? Logo, há que criar mais um para preencher o vazio. E assim se percebe que isto dos conceitos de errado e de certo não passam de meras interpretações, inclinações, disposições, ou qualquer outro substantivo acabado em “ões”, que dependem do lugar, do tempo das horas e do tempo do sol e do que mais quisermos para mantermos a nossa consciência tranquila diariamente. Cada dia é um dia. After all we’re just human beings.

São 160 minutos de filme sem grandes acções, mas também sem necessidade delas ( se bem que eu cortaria meia dúzia de cenas com alguns personagens secundários que me parecem não influenciar em nada a estória e que consomem 20 a 30 minutos sem necessidade ). De salientar o fabuloso desempenho de Casey Affleck, simplesmente soberbo. Uma espécie de Jack Skellington ( Nightmare before Christmas ) humano ( infantil, mau e com boas intenções ). Brad Pitt está irrepreensível dentro da sua máscara de sombras, negras sombras. Aliás, a sua interpretação fez-me lembrar uma frase da Meryl Streep aquando da apresentação da sua personagem em O Diabo veste Prada, em que ela dizia que o poder de uma pessoa não é visto pelo modo como ela anda, fala ou grita, mas sim à sua passagem, quando os olhares se baixam e as vozes se calam. Jesse James ( ou será Brad Pitt? ) tem esse poder. Por último, o narrador Hugh Ross e a luz. Ambos muito bons.

Como viram até nem contei muito, acreditem. Deixo-vos um trailer e finalizo dizendo que se ainda não viram o filme e leram este post até ao fim não pensem que já não vale a pena vê-lo no cinema. Acreditem em mim, vale mesmo a pena, nem que seja só para confirmarem se não inventei metade do que aqui está, lol. Mentira. Vejam pelo desempenho do Brad Pitt e do Casey Affleck.
Bons Filmes :)



- Peçam o vosso dinheiro de volta na bilheteira.

- Humm…antes isto que o jantar com os vossos sogros.

- "Oh môre o filme foie tão bunito, não foie? Snif Snif :'( "

- "Quando for grande vou ser realizador!!! :D "

- "É hoje. É hoje que me atiro da ponte. Porque é que eu tenho esta vida inútil? Porquêêêêêêê???"