quarta-feira, 30 de julho de 2008

Porquê? Humm… porquê? I

Era e continua, certamente, a ser uma das minhas palavras preferidas: porquê. (Os advérbios em geral e os de modo em particular são outras das minhas palavras favoritas, não me perguntem é porquê, porque não saberia responder. Só sei que sempre que posso, zás, lá introduzo um. Manias...) Sim, porquê?

Aos 6, 7 anos a melhor professora que alguma vez tive, a da primária – honra seja feita à professora Luísa que bem podia ser santificada – já me apontava como a Mafaldinha da turma, não fosse eu já muito contestatária. “Porque é que os rios descem para o mar e não é o mar a subir para os rios? Porque é que Espanha tem um rei e nós não? Porque é que tenho de começar uma resposta a uma pergunta que comece por porquê com um porque?”. Em casa não me lembro muito bem, mas devia ser a mesma coisa, isto porque, a certa altura, o meu pai deu-me um livro cujo título era Porquê?. Hoje lembrei-me dele com saudades e fui procurá-lo. No caixote da Bela Adormecida, da Cinderela, de alguns Astérix, dos Contos do Gato Charabiá, da Menina do Mar, da Fada Ariana, dos livros da Disney, das colecções Bem Crescer Bem Viver e da Condessa de Ségur, lá encontrei o Porquê?, aquela que deve ter sido a minha bíblia durante alguns anos. (Que nostalgia me assolou a mexer naqueles livros todos…)

Ao folhear as 188 páginas do livro encontrei 500 questões e 1000 respostas que me satisfizeram há uns 20 anos atrás. Hoje, para além de ter muitos mais porquês para ver respondidos, algumas respostas não me pareceram as mais correctas. Outras ainda extremamente lógicas e umas quantas incompletas. Senão vejamos os seguintes exemplos.

“Pergunta 52 – Porque se faz casacos com peles de animais? Há animais que vivem em regiões muito frias, protegidos apenas pelo pêlo, que é muito quente. Daí surgiu a ideia de fazer com a pele desses animais casacos de Inverno. Por vezes custam muito caro, mas muitas mulheres compram-nos pela sua beleza e real protecção.” E podiam ter escrito um pouco mais de yada, yada, yada, que no fim eu responderia a isto muito melhor dizendo apenas: porque há pessoas que às vezes não pensam, porque se não lhes pesa na consciência ter um animal morto a embelezar os ombros, porque não matam os seus caniches ou os seus são bernardos e os pões às costas? Sempre ficava mais barato. A burrice humana mexe-me com os nervos de uma maneira inexplicável.

"Pergunta 147: Porque se pode beber sumo de uva à vontade e vinho não? Não tendo fermentado, o sumo de uva não contém álcool. O álcool contido no vinho é nocivo à saúde, principalmente à das crianças, ao passo que o sumo de uva é delicioso e nutritivo. (…) O álcool é um alimento de reduzido valor nutritivo e a sua ingestão repetida converte-o num veneno que prejudica o organismo, destrói lentamente as células e age sobre o sistema nervoso.” Calma, eu não me ando a envenenar. E garanto-vos que se não fosse o absinto, muitos dos génios literários que nos enchem as prateleiras nunca lá tinham chegado. Já para não falar nas inúmeras noites divertidíssimas à volta de packs de minis em casa do meu Migas e da minha Bé! Corre o boato, há uns anos para cá, que eu abri 3 garrafas de vinho num espaço de mais ou menos 20 minutos. As más línguas dizem que abri uma e enchi o copo. Acabei de beber esse copo e abri outra garrafa. Enchi outra vez o copo e quando o terminei, não satisfeita abri outra garrafa de vinho. Das três uma, ou estão a mentir, ou apanhei uma borracheira tal que já não via as garrafas, ou eu sou uma pessoa muito chique, só bebo um copo por garrafa de vinho. De qualquer das formas, crianças garanto-vos que o vinho não é veneno!

“Pergunta 156: Porque dizemos que “ não há rosas sem espinhos”? Ao apanhar uma rosa, encantados pela sua beleza e pelo perfume, podemos picar-nos nos seus espinhos. Mesmo com o que é bom, devemos ser cuidadosos. Assim, se comermos exageradamente chocolate, que é bom, podemos ficar doentes.” Team, não te faz lembrar nada? Só te falta transformar as tuas analogias em ditados populares. Garanto-te que tens futuro! ;)

“Pergunta 160: A Terra já existia antes de haver gente?” A resposta é a que todos nós já conhecemos, mas agora coloco eu duas questões: porque é que havia Terra se não havia gente? E para que é que ela existia se eu não estava cá, por exemplo? LOOOOOL. Quando digo eu, digo vocês, os que me rodeiam, não estou a ser assim tão egocêntrica, pois não? E ainda pergunto mais: quando eu morrer fará sentido a Terra continuar a existir? Humm… não me parece. Aliás não percebo como o mundo conseguiu chegar até 1980 sem mim, não percebo, simplesmente transcende-me.

“Pergunta 204: Porque crescemos? Crescemos durante muito tempo para deixarmos de ser crianças e transformarmo-nos em pessoas adultas com filhos, profissão e responsabilidades.” Ainda hoje meia volta lá estou eu sempre a fazer esta pergunta a mim própria, porquê? Porque é que temos de crescer? Eu adoro responsabilidades, adoro que me ponham um peso em cima para carregar, é sinal que confiam em mim e que sabem que aguento bem esse peso, mas daí a crescer… Estou a exagerar, obviamente (estão a ver? Mais um advérbio). Logicamente que prefiro os meus 28 aos meus 14, primeiro porque me lembro quão bons foram os 14, depois porque os 14 seguintes trouxeram um conhecimento impossível de adquirir se não passasse pelos 16, 21, 25 e 27 e ainda porque sei que os 28 mais que aí vêm serão os melhores que poderia ter. O futuro será bom, tenho a certeza, mas eu sou uma saudosista e crescer implica passar de um estádio ao outro sem que se possa voltar atrás. Queria tanto ser omnipresente e omnitemporal. (A parte dos filhos é que continua a não me agradar muito, prefiro afilhados e "sobrinhos")

“Pergunta 205: Porque choramos quando estamos tristes? (…) Uma notícia má, uma dor ou uma contrariedade desencadeiam um conjunto de reacções emocionais. Reflexos elaborados pelos núcleos cinzentos centrais do cérebro provocam a emissão de lágrimas, por vezes acompanhadas de gritos e tremores. Uma outra região do cérebro, o córtex, sede da vontade, permite controlar as manifestações de sofrimento.” E eu sou doutorada no córtex… ou não. A questão devia ser: porque choramos e não porque choramos quando estamos tristes. Eu choro de felicidade e de tristeza. Em relação à primeira não me importo, já em relação à segunda…dá-me cá uma raiva. Choro de cansaço e de nervos, de arrependimento e de ansiedade. Mas sabem que mais? Rio milhões de vezes mais por cada vez que choro, porque a Vida é Bela! Finalizo com uma questão que me suscita alguma curiosidade: porque é que, ás vezes, quando estamos tristes não conseguimos chorar? A gerência agradece respostas.

“Pergunta 221: Porque se diz “olho vivo”?” Para não nos esquecermos de ir ver o Steve Carell a partir de dia 7 de Agosto, num cinema próximo de nós! AH AH AH AH AH!

“Pergunta 223: Porque sentimos calor quando corremos? (…) O esforço produzido pelos músculos durante a corrida provoca um aumento do consumo de energia no organismo. O coração bate mais depressa, a oxigenação do sangue é acelerada, as oxidações são mais rápidas. Há então aumento da produção de calor.” Perdi-me nesta explicação toda. Eles estavam a falar de quê? Correr? De repente pareceu-me que estavam a falar de outra coisa…

“Pergunta 274: Porque queima o sol a pele?” No mínimo esta pergunta é para gozar comigo. Queima? Não tenho dado conta. Cá para mim o sol é racista e se foi Deus que criou o Sol, Deus então também é racista. Por estas e por outras é que eu nunca poderia acreditar em tal entidade. A pergunta devia ser formulada diferentemente: Porque é que o sol demora umas três semanas a queimar a pele de Pinheirinhas, humm, porquê? Nós branquinhas sofremos tanto…

“Pergunta 327: Para que servem os pára-raios?” Não servem para nada, pelo menos é o que o Patrick e toda a população de Elmo pensa (desculpem, mas esta era só para quem vê o Men in Trees. Não resisti.).

“Pergunta 409: Porque é que hoje não é ontem? O tempo corre de maneira irreversível, do passado para o futuro. (…)” A pergunta pode parecer estúpida, mas eu até acho que faz algum sentido. Claro que a resposta desfaz qualquer anterior lógica da questão, no entanto, esta também não é senão emocional. Pois reparem bem. Porque é que gostaríamos que hoje fosse ontem? Porque sentimos falta de alguma coisa, porque gostaríamos de mais umas horas para viver alguma situação, porque o dia correu tão bem que gostaríamos de o repetir ou porque simplesmente poderíamos corrigir ou acrescentar alguma coisa a algo. Este é o exemplo perfeito de como o córtex is just a tiny little part of our being. O meu racionalismo diz duhhh quando leio esta pergunta, mas depois… tudo o resto se interroga: porque é que hoje não é ontem?

“Pergunta 445: Porque é que no Natal se ornamenta a casa com um pinheiro enfeitado?” Qualquer explicação é inútil, porque os PINHEIROS são nossos amigos :) e nunca, mas nunca se devia ter começado tal tradição. Eu não gosto de servir de ornamento, tenho pouca vocação para enfeite.

“Pergunta 447: Porque é que se diz mentiras no 1º dia de Abril?” A resposta que é dada relaciona-se com a mudança de calendário. No entanto, parece que a mais lógica será a seguinte: para disfarçar todas as outras que se contam durante o resto do ano. Quantas vezes mentimos durante o ano? Por mim falo e afirmo que muitas, na maioria das ocasiões, são mentiras pequeninas que não ferem ninguém. As piores são as que contamos a nós próprios. Porque o fazemos? Porque por vezes precisamos, porque adiamos um assunto mais um pouco, porque é mais confortável, para não darmos grandes explicações, porque a verdade nem sempre é a melhor opção. Mentira. A verdade é sempre a melhor opção, mas se calhar hoje não é dia de a manifestar. (Nem de propósito, o Windows Media Player toca a Modern Way dos Kaiser Chiefs cujo refrão canta assim: This is the modern way, Faking it everyday, Taking it as we come, We're not the only ones, Is that what we used to say, That this is the modern way?)

“Pergunta 464: Porque se beijam as pessoas? É uma maneira de mostrar às pessoas que se gosta delas. É também um meio de agradecer, ou simplesmente uma forma de polidez. Mas é realmente um prazer beijar as pessoas de quem gostamos.” Pois… vamos lá esmiuçar isto mais um pouco então. Obviamente que este é um livro para crianças e não convinha que se pusessem com grandes dissertações sobre os vários significados de um beijo. Sim, na maioria das vezes a explicação vai recair sobre o afecto que temos por alguém e a sua manifestação. Mas nem só isso é um beijo. Por exemplo, os autores do livro nunca poderiam dizer que às vezes um beijo pode significar…nada, rigorosamente nada, senão arriscavam-se a que alguém imediatamente perguntasse: então porque se beija? E aí era o cabo dos trabalhos, porque até eu que já beijei sem significado, não sei bem como o explicar e é aí que reside o verdadeiro problema. E mais uma vez estou a mentir. Claro que não beijei sem significado, a questão é que não me agrada de todo o significado que me levou a beijar e por isso mesmo prefiro pensar que o fiz sem significado. Digam lá a verdade: alguma vez conheceram alguém que construísse e destruísse teorias tão rapidamente como a Pinheirinha?

“Pergunta 480: Porque fazem os homens a barba todas as manhãs? A barba dos homens cresce também de noite. Assim, eles barbeiam-se de manhã para a fazerem desaparecer, para ficarem com ar limpo e pele macia e para não arranharem as pessoas que os beijam.” Palavras sábias, se bem que a questão que se impunha seria porque é que nem todos os homens fazem a barba todos, todos, todos os dias, humm? Ai, ai, vamos lá ver!

As perguntas que tenho para um novo livro são outras. Aquelas que todos nós temos, as que se não temos vamos ter um dia destes, as que já foram feitas por alguém algum dia, as mais banais das banais provavelmente. Mas isso só no Porquê? Humm… porquê? I I. To be continued…