quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Relíquias do século XXI

Eram 11.20 da manhã, ia a pé para o Carvalhido, e eis senão quando vejo uma saca de pão pendurada na maçaneta de uma porta. Aí está uma visão que já não tinha há muito tempo. Tenhamos em conta que estou a falar de uma visão no meio da cidade do Porto. Esta é uma imagem que ainda pode ser encontrada em muitos locais pelo país fora, mas sobretudo em localidades pequenas. Agora numa cidade ou a memória me atraiçoa ou então nunca vi (suponho que atraiçoa, pois quase que jurava que na rua da minha avó já vi este quadro) e trata-se de um verdadeiro tesourinho, nada deprimente.

No entanto, se pensarmos bem, também não se trata de algo assim tão inédito. Pelas minhas bandas ainda passa a carrinha da peixeira a apitar por todos os lados em sinal de alerta de que o peixe está fresquinho. É só esperar uns minutos e lá vão as donas de casa pescar o que de mais genuíno o mar nos dá. Naturalmente, seguir-se-á o discurso inflacionado dos euros que teimam em ser cada vez menos nas carteiras das senhoras, mas a fotografia, não fosse a cores, seria igual a uma qualquer que encontramos no baú dos nossos papás.

Melhor ainda. O homem das batatas. É verdade, o homem das batatas (e arrisco das cebolas também). É ao som de Quim Barreiros, a sair de um megafone (o som, não o Quim Barreiros) encimado no camião, que normalmente sabemos que é dia de comprar batatas. Baratas e boas, que até parecem castanhas. E os sacos de 25kg, que ocupam grande parte da despensa, não dão jeito nenhum, mas lembram-nos que o Porto é uma cidade, ainda, com qualidade de vida. Se não vamos à feira, a feira vem até nós. Sim, porque mesmo a fruta tem presença marcada no fim das ruas, onde será difícil a polícia passar e obrigar a vendedora a arrumar tudo imediatamente enquanto guarda no bolso uma multa por venda em local proibido.

Não estamos aqui a falar de provincianismo, mas sim de pequenos luxos, a que os mais cínicos não saberão ou não quererão dar valor. É a vida recheada de vida, de boa vida. São as pequenas cerejas em cima dos bolos que são os nossos dias, as tiras de chocolate em cima do gelado que é o nosso mundo. É a cidade a manifestar-se e a dizer que ainda é comunidade. E já são tão poucas…
Há lá coisa melhor que viver no Porto :D

2 comentários:

(n)Ana disse...

Nem de propósito!!
Hoje estou na tua terra...!!
Que bela cidade pah!!!!
(merece tanta exclamação... sempre adorei o Porto :o) )
Gosto mesmo disto!!
E sou muito bem tratada por cá. Hoje até me ofereceram cá trabalho... e olha que não sei se não aceito... uma temporada longe de Lisboa ia fazer-me maravilhas.
Se arranjasse um homem do Norte os meus pais iam chorar de felicidade hehehehe.
Mas voltando à "cena" de ser bem tratada... No restaurante da Fundação onde costumo vir almoçar (a do Dr. António Cupertino de Miranda na Boavista), já nem preciso de dizer nada!
Trazem-me logo a sopinha de legumes e um prato vegetariano.
Que gente tão fixe, simpáticos que dói e eficienteees!
GOOOOXTO!!
E o trabalho no Porto corre sempre tão bem... a malta é mais cumpridora e assídua. Dá gosto trabalhar assim.
Hoje está um tempo particularmente solarengo. A cidade está LINDA.
Não vi os sacos do pão na porta mas a cidade enche-me o coração! :o)
Que sorte tu tens :o)
Um grande beijo!
nana

V V disse...

não há homem das batatas, mas há aquelas carrinhas amarelas que vendem congelados. lolol. Pena a buzina irritante :S