sexta-feira, 20 de junho de 2008

Os Olhos dos Outros

Os olhos de quem me interessa, não quaisquer olhos. Os teus e os teus. Os dele e os dela. Os vossos e também os outros. No fim, os meus que vêem os vossos.

Só vejo os que quero ver. Aqueles que me dizem que tenho um feitiozinho tramado, os castanhos que me apontam um coração do tamanho do mundo, os mais pequeninos que me chamam de preguiçosa, os que choram a rir com a quantidade de disparates engraçados que eu sou capaz de produzir.

Gosto dos olhos que sei que nunca me vão mentir, dos que sempre me vão amar e dos que me acalmam quando fico “estouvada”. Há ainda os que poucas vezes me viram, mas que eu admiro por verem longe.

Tenho ainda na memória a íris dos que não gostam de me ver chorar (e que sabem que ODEIO chorar), dos que procuram a criança que há e sempre haverá em mim e dos poucos, muito, mas mesmo muito poucos que reconhecem o cinismo impregnado em algumas das minhas palavras. Adoro os que se chateiam comigo, que me fazem ficar triste comigo própria, que me fazem pensar que ODEIO ficar triste e que no dia seguinte me aconchegam num abraço que me faz sorrir e pensar que AMO sorrir.

Tenho sempre comigo as pupilas repletas de partilhados guilty pleasures, os olhares a pedirem feedback, mas que nem precisam que eu pestaneje para que o recebam, as córneas de quem compartilha aquele único momento.

Depois… os que não quero ver, porque não preciso, porque não quero, porque tenho os olhos de quem me chama pedante intelectual e os de quem me aponta todas e mais algumas manias. Para que preciso eu de mais quando tenho os vossos?

Sou filha de pai e de mãe… e que grandes pais. Da mãe herdei o género e a bondade, do pai… bem, do pai seria tudo o resto, não fosse eu também vossa “filha”. E sou vossa “filha”, essencialmente, porque sou filha única de pais separados desde muito cedo. Nós que pertencemos a esta categoria, somos todos muito filhos uns dos outros. Dos biológicos vou herdar tudo aquilo que alguma vez eles e eu poderíamos desejar, o MEU caminho. De vocês… os passos que farão com que não percorra o MEU caminho sozinha. :)

3 comentários:

maf disse...

És uma linda! Só tu para escreveres um elogio tão bonito aos teus amigos e aos teus pais duma forma tão anatómica! :) Acho que só te esqueceste mesmo de falar na fóvea, a região da retina mais dedicada à visão de alta resolução.. e alta resolução é o que se quer!.. poderíamos agora dissertar um pouco sobre este conceito tão "essencial" hoje em dia!.. no telemóvel, na máquina fotográfica, na televisão gigantesca! Mas realmente parece-me que "os outros" (porque são sempre os outros!) estão cada vez mais exigentes com a "alta resolução" da tecnologia, e cada vez menos olham os que lhes estão próximos com o mesmo nível de "resolução". Portanto, vamos lá começar a exercitar mais a fóvea quando olharmos para quem nos rodeia! ..er.. os outros! os outros! esses grandes distraídos!

Como diz a nossa querida e sempre realista/pessimista Mafalda do Quino: "E não é que neste mundo há cada vez mais gente e cada vez menos pessoas?"

(n)Ana disse...

E eu...
Eu guardo no coração os teus olhos que só vi uma vez e tanta confiança logo me inspiraram. Ainda nem os tinha visto e já confiava neles.
Bonitos olhos os teus... por serem bonitos e iluminarem a tua face e por me deixarem neles confiar.
Adorei o post.

Viva os pais biológicos! Que te trouxeram ao mundo. A ti e aos teus olhos :op
Sorry... Tou uma lamechas do catano hoje!

Big Kiss

Sr. Mal disse...

isto está a dar-me que pensar!

Quando falaste nos olhos pequeninos, por momentos pensei que estavas a falar dos meus olhos bêbados e, por segundos, pensei: - "tu queres ver que ela vai falar daqueles que vão ficando zarolhos com o avançar da noite?". Mas depois reflecti... "eu nunca lhe chamei preguiçosa. Ela é que me chamou a mim!"...

Agora que não uso óculos e, ás vezes nem olhos, este braille, de tão sincero, faz-me mesmo sentir cego.

Não sei o que mais me comove... se a verdade ou a sinceridade. De uma ou de outra forma, és grande! E, se nunca to disse, é porque estava distraído. ÉS GRANDE! Não por me sentir pequeno, mas por a minha fita de alfaiate, que mede as pessoas por dentro, não ter baraço sequer para te chegar à boca.