sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Being Wes Anderson

Wes Anderson, muito mais que interjeições verbais, provoca-me interjeições faciais. Todo ele é um wow, um wow que me faz arregalar os olhos e abrir um sorriso. Nada disto seria de espantar (pois como toda a gente sabe eu sou um sorriso 24/7), não fosse o simples facto de eu não ser nada dada nem a metáforas nem a subtilezas. Daí provir o meu fascínio por este contador de estórias.

Anderson não se relaciona directamente com o mundo que o rodeia à espera que este o perceba, faz filmes para ele e não para os outros. E nos dias que correm isto é já de si uma atitude excêntrica. O imprevisível e o melancólico não são bons chamarizes para uma ida ao cinema. Ou sim, se forem captados pela câmara de Wes. Ou se adora ou se detesta, não há meios termos, just the way I like.

Em The Darjeeling Limited
está lá tudo, o imprevisível, o melancólico, as pausas, os longos planos fixos, que parecem não trazer informação relevante, os diálogos “diferentes” (principalmente em Hotel Chevalier), a música (espero que estejam a ouvir) e o minucioso cuidado visual. Ah, particularmente neste filme temos as cores, meu deus, as cores. (Atenção aos daltónicos e aos sensíveis a cores fortes. Aos primeiros porque não vale a pena verem este filme, aos segundos porque são capazes de ferir a vista.) Concluindo, tudo aquilo que é necessário para que em apenas 5 segundos percebamos que estamos no reino de Anderson.

Sinopsemos então. “Três irmãos norte-americanos, que não se falavam há um ano, lançam-se numa viagem de comboio através da Índia no intuito de se encontrarem a eles próprios e reatarem os laços familiares – tornarem-se novamente irmãos como eram antes. Porém, a sua “busca espiritual” desvia-se rapidamente do caminho proposto (por causa de acontecimentos envolvendo analgésicos ilegais, xarope indiano para a tosse e spray pimenta) e eles acabam por se ver abandonados no meio do deserto com onze malas de viagem, uma impressora e uma máquina de plastificar. Subitamente inicia-se uma nova viagem não planeada.” – in UCI Cinemas. Mas como as sinopses não me chegam e eu gosto de falar sobre filmes, lá vou eu estragar-vos mais um (mas acreditem que não vos vou contar tudo, seria impossível, Anderson é visual. Mesmo assim, já sabem, se são susceptíveis... não leiam).

The Darjeeling Limited
é precedido por uma curta-metragem chamada Hotel Chevalier, escrita também por Anderson, e que é uma espécie de prólogo ao filme. Primeiro parêntesis: Natalie Portman e Jason Schwartzman. Portman como veio ao mundo e Schwartzman sem despir sequer o casaco.
Natalie – Whatever happens in the end, I don’t want to lose you as a friend.
Schwartzman – I promise I will never be your friend, no matter what ever.
Natalie – If we fuck, I’m going to feel like shit tomorrow.
Schwartzman – That’s ok with me.
Natalie – I love you. I never hurted you on purpose.
Schwartzman – I don’t care.
E quase tudo o resto é silêncio.

Se em O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford was all about the characters, this time is all about the story.
Os irmãos Whitman são disfuncionais, aliás a família Whitman é disfuncional. Francis (Owen Wilson) sofreu um “acidente” com uma moto e está todo partido (weird, se pensarmos que o próprio Owen Wilson se tentou matar no Verão passado), é rico, possessivo e controlador, muito controlador (tal e qual a mãe). Peter (Adrien Brody) parece ter parado nos anos 80, pois não larga os óculos de 15cm de diâmetro que eram do seu falecido pai, culpa-se pela morte deste e tem medo de ser pai. Jack (Jason Schwartzman) é um escritor coração de pedra, inseguro, que só se relaciona com mulheres superficialmente e que baseia todos os seus romances em pessoas reais. O pai deles morreu há um ano atrás. A mãe fugiu após a morte do pai e tornou-se freira. Acrescentemos a tudo isto o facto de a acção se desenrolar na Índia (a esta hora aposto que já estão com os cabelos em pé).

Idiossincrasias à parte, todos se amam uns aos outros e só por isso estão juntos na viagem terapêutica, ou pelo menos numa viagem que se pretendia terapêutica. Para que isso se concretizasse, os três irmãos só precisariam de não levar com eles as 10 malas que os acompanhavam, a derradeira personagem do filme, o passado. As malas (que me fazem lembrar imenso o esquilo do Ice Age, porque parecem não fazer parte da história e estão sempre a aparecer nos momentos mais inesperados) são nada mais nada menos que a metáfora perfeita do peso das vidas deles. E acreditem, eram 10 malas bem cheias.

À medida que o tempo vai passando e eles vão descobrindo que não confiam uns nos outros, que na realidade já não se conhecem e que o amor que nutrem não chega para que convivam saudavelmente, descobrem que nem tudo nas suas vidas é negro. E é através da vida de outros que percebem que afinal chegou o momento de darem mais uma hipótese a eles mesmos (não vou contar que vidas e que acontecimentos os fizeram abrir os olhos). A mãe é aqui decisiva também: “ Let’s make an agreement: a) we’ll get an early start tomorrow morning and try to enjoy each others company; b) we’ll stop feeling sorry for ourselves. It’s not very attractive; c) we’ll make our plans for the future.”

Finalmente, o peso ficou para trás - “Dad's bags aren't gonna make it” (brutal).
E a viagem continua. The End.

Eu acho que foram as cores que os salvaram... O que eu não dava para passar uns dias com Wes Andeson e perceber se os filmes dele são como os livros do Jack Whitman. ;)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Uma série de coisas que não interessam nada

Apetece-me postar. Algo. Que não interessa nada. Ou não (que neste caso passa a dar um sentido positivo à frase anterior. Pronto, típico, já comecei a complicar).

Para quem ainda não sabe, estou...(rufos, pauuuuuuusa) morena :) Oui, oui, morrená (ler com sotaque francês sff). É certo que já não sei não ser loira, mas de vez em quando não faz mal nenhum parecermos mais inteligentes. E já que estou a entrar na fase de procurar emprego (sim, porque isto é por fases. Depois desta vem a fase do despedir-me) não me pareceu nada má ideia mudar de ares. E oba oba, foi cá uma mudança. Num dia deito-me loira, de cabelo encaracolado e comprido, no outro acordo de cabelo castanho (super escuro), liso e mais curto. However, I'm the same old Pinheirinha.

Estéticas à parte e para provar que continuo a mesma (embora a minha mãe diga que tem outra "nina" em casa) fica aqui uma música em que ando viciada.




Além de estar na fase de emprego, estou também na fase de precisar de sair do Porto por uns dias, espairecer. Normalmente chega ir até Afife um fim-de-semana, mas na realidade apetece-me é ter um tempo de bela javardice. Ver gente nova, rir até não poder mais, beber uns dois barris de cerveja, etc. Enfim, não pensar. Por isso, se tiverem sugestões...feel free.

(Peço desculpa pela interrupção, estava a telefonar à minha menina - Cláudia - que faz aninhos hoje :D PARABÉÉÉÉÉÉNS AMIGA - AMO-TE MUIIIIIIIITO)

Continuemos então. Ando a ressacar Prison Break. Vi 9 episódios em 3 dias e agora acabou-se-me a dose e ainda para mais num episódio de ficar com os cabelos em pé: o Mahone saiu de Sona e o Scofield também. O Whistler está a dizer mal da vida dele e o Lecchero está-se a ver negro para arranjar um plano. Oh pá, eu até sou uma pessoa que compreende perfeitamente os argumentos dos argumentistas, aos argumentistas o que é dos argumentistas, porque isto de escrever umas cenas não é pêra doce ( se bem que era o melhor trabalho que eu podia ter, era só transportar esta minha imaginação para o papel ), mas pá... deixar uma pessoa à espera de facadas, de uns olhos azuis frios e calculistas, das camisas sempre molhadas por causa do calor e humidade do Panamá, de um sotaque australiano sempre a sussurrar ameaças... Já chega, está-se a tornar um pouco erótico.

Preciso de mais estantes ou prateleiras. Não sei onde as hei-de pôr, mas também já não sei onde pôr tanta revista e livros ( quer dizer, não são assim tantos... para quem gostava de ter uma Alexandria ). Depois de em Dezembro ter descoberto o IKEA, e de parecer a Mãe-Natal quando saí de lá, não penso noutra coisa ( hipérbole ) a não ser redecorar a casa. E se comprar mais estantes e não as encher, que remédio vou ter eu senão comprar mais livros ( círculo vicioso ).

Vou ter de parar por aqui, porque entretanto o Senhor Mal resolveu pôr-se aqui a falar comigo no Messenger e perdi o fio à meada.

Assim sendo, despeço-me com amizade ( uma das minhas memórias de infância é sem dúvida o Engenheiro Sousa Veloso com aquele cabelo e voz inconfundíveis ) e com uma música que adoro. Senhores e Senhoras, Caramel.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O frio do Missouri

Hoje também está frio, aqui no Porto.
Feito o ponto de situação meteorológico no norte do país falo-vos agora dos ventos gelados que passaram pelo Missouri, nos finais do século XIX. Isto porque ontem fui ver The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, filme que gostei e ao qual dou ( ver tabela de rating no final do post - looool, pronto, confesso, não resisti a fazer esta pequena piada, muito boa, diga-se de passagem ).


Desde já aviso que se são daqueles que mal alguém começa a falar sobre um filme dizem logo “ Não contes, não contes nada, porque eu ainda não vi o filme”, enquanto põem as mãos nos ouvidos e fecham os olhos, como se soubessem ler os lábios e não o quisessem fazer, então o melhor é mesmo não continuarem a ler.

Era uma vez um homem chamado Jesse James ( Brad Pitt ), um impiedoso ladrão e assassino que por onde quer que passasse fazia tiritar os dentes dos que o rodeavam, pelo menos daqueles que sabiam quem ele era, pois Jesse James vivia sob várias identidades falsas e aos olhos do comum cidadão ele era um simpático e educado homem da sociedade.

Era uma vez Robert Ford ( Casey Affleck ) um dos elementos do último bando criado por Jesse James, franzino, 19 anos, cobarde, que desejava nada mais nada menos que ser o impiedoso ladrão e assassino Jesse James.

Apresentados que estão o bom e mau falta só encontrar o vilão. Num exercício de lógica fácil de fazer, se juntarmos a esta pequena apresentação o título do filme, rapidamente percebemos qual destes dois é o vilão. O Jesse James, certo? Ou não. Vamos então acrescentar mais alguns elementos.

No início dos anos 80 do século XIX a lenda criada à volta do larápio deu origem a páginas e páginas de jornais, a romances mais ou menos fantasiados e fez com que o nome de Jesse James chegasse à Europa como se de um herói se tratasse. Tudo isto sabemos nós olhando para debaixo da cama de Robert Ford. Empilhado numa pequena caixa está o grande sonho do jovem rapaz, ser um dos homens "James" e provar ao próprio que está à altura de grandes desafios. O problema aqui é que o nosso homicida ou goza com o puto a toda a hora ou então ignora-o, fazendo com que este se sinta completamente humilhado.

Já sei agora estão a pensar que o vilão é o Robert, porque matou por despeito. Mas e então e o Brad Pitt barbudo que continua a matar os seus amigos mais próximos com uma frieza digna de fazer parecer um iceberg o deserto do Sahara? Continuemos. ( A esta hora já tenho dois ou três amigos a pensarem “ pronto… mais um post da Pinheirinha que nunca mais acaba. PORQUE É QUE ELA NÃO ESCREVE MENOS????” )

O filme tem um narrador que nos vai fazendo chegar os remorsos de alguém que passou muitos anos a fugir de cidade para cidade, a contabilizar os olhares dos que fechariam os olhos para não mais verem a luz do dia, ou qualquer outra luz, e a viver sob a dúvida de saber se vai poder passar o resto da vida a corresponder à lenda que é criada à sua volta. Está cansado, muito cansado. Enquanto isso, Robert percebe que nunca será respeitado pelo seu herói e decide que a sua vida tomará o rumo certo. E é aqui que…ele mata James? Será? De repente, lá de cima, da última fila da sala de cinema, pareceu-me fazer mais sentido o filme chamar-se ( se não querem mesmo saber o final do filme, por favor, não continuem a ler ) The Suicide of Jesse James by the Fearful Charlie Ford. Não, não me enganei no nome. Trata-se do irmão de Robert.

Os últimos 15 minutos da película giram à volta das consequências da morte da maior lenda americana da época. A sociedade não vive sem vilões, porque senão como nos qualificaríamos de bons? Logo, há que criar mais um para preencher o vazio. E assim se percebe que isto dos conceitos de errado e de certo não passam de meras interpretações, inclinações, disposições, ou qualquer outro substantivo acabado em “ões”, que dependem do lugar, do tempo das horas e do tempo do sol e do que mais quisermos para mantermos a nossa consciência tranquila diariamente. Cada dia é um dia. After all we’re just human beings.

São 160 minutos de filme sem grandes acções, mas também sem necessidade delas ( se bem que eu cortaria meia dúzia de cenas com alguns personagens secundários que me parecem não influenciar em nada a estória e que consomem 20 a 30 minutos sem necessidade ). De salientar o fabuloso desempenho de Casey Affleck, simplesmente soberbo. Uma espécie de Jack Skellington ( Nightmare before Christmas ) humano ( infantil, mau e com boas intenções ). Brad Pitt está irrepreensível dentro da sua máscara de sombras, negras sombras. Aliás, a sua interpretação fez-me lembrar uma frase da Meryl Streep aquando da apresentação da sua personagem em O Diabo veste Prada, em que ela dizia que o poder de uma pessoa não é visto pelo modo como ela anda, fala ou grita, mas sim à sua passagem, quando os olhares se baixam e as vozes se calam. Jesse James ( ou será Brad Pitt? ) tem esse poder. Por último, o narrador Hugh Ross e a luz. Ambos muito bons.

Como viram até nem contei muito, acreditem. Deixo-vos um trailer e finalizo dizendo que se ainda não viram o filme e leram este post até ao fim não pensem que já não vale a pena vê-lo no cinema. Acreditem em mim, vale mesmo a pena, nem que seja só para confirmarem se não inventei metade do que aqui está, lol. Mentira. Vejam pelo desempenho do Brad Pitt e do Casey Affleck.
Bons Filmes :)



- Peçam o vosso dinheiro de volta na bilheteira.

- Humm…antes isto que o jantar com os vossos sogros.

- "Oh môre o filme foie tão bunito, não foie? Snif Snif :'( "

- "Quando for grande vou ser realizador!!! :D "

- "É hoje. É hoje que me atiro da ponte. Porque é que eu tenho esta vida inútil? Porquêêêêêêê???"