sábado, 6 de outubro de 2007

O que eu gosto na minha cidade

Fácil, demasiado fácil. E no entanto, parece que me faltam as palavras.
A atitude, as vísceras...
A hombridade, as gaivotas da Cantareira...
O Douro, a coragem de quem morreu a navegar e a solidão dos jardins abandonados...
As placas toponímicas que nos recordam como esta cidade se construiu, o splah das águas quando os putos ainda saltam para o rio e o meteorito da Boavista...
As vogais abertas nos discursos inflamados, a luz suave do granito e o internacionalmente "provinciano" clube que nos põe roucos...
O murmurar das ondas da Foz em dias de Primavera, os decibéis de quem ao ver o amigo do outro lado da rua diz " Oh meu caralho tavas aí e não dizias nada?", o metro sem torniquetes...
A revista O Tripeiro, o Rui Reininho e a SONAE...
Os raios de sol que batem nos azulejos das casas da Ribeira, o fogo de artifício do S.João e a Baixa a renascer...
As escadas de Miragaia que viram passar os pés dos meus antepassados, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e as peixeiras do Bolhão abraçadas aos adeptos da Laranja Mecânica após o empate com a Alemanha no Euro2004...
Eu, a minha mãe e o meu pai...
Os patrões que deixam os funcionários saírem mais cedo em noite de Champions League, o passo acelerado de quem quer gritar gooooooooolo no seu sofá, mesa de café ou cadeira do estádio e as ruas desertas entre as 19.45h e as 21.30h...
Os que mesmo não tendo nascido nesta cidade fizeram questão de semear e deixar crescer novas raízes e escreveram Daqui Houve Nome Portugal, o néctar que Baco não dispensaria no seu copo e o frio e o céu cinzento que abraçam um casal de velhos de mão dada a passearem
em Serralves...
Fácil, demasiado fácil. E no entanto, parece que me faltam as palavras.

6 comentários:

Unknown disse...

4 palavras apenas... BIBA O PUORTO CARAGO!

Bárbara de Sousa Basto disse...

O 1.º post sem referência à Super Bock?!? Estou espantada!! :)

Beijinhos, parabéns e diverte-te no teu blog, o qual eu tenho a certeza que já adoras apesar de não gostares de blogs!



P.S.:"Ver-te assim, abandonado, neste timbre pardacento, nesse teu jeito fechado, de quem mói um sentimento, e é sempre a primeira vez, em cada regresso a casa, rever-te nessa altives, de milhafre ferido na asa..."

Bárbara de Sousa Basto disse...

altiveZ, logicamente... ;)

disse...

Lindo!

maf disse...

Fabulous!... just like you ;)
Um verdadeiro tributo à nossa "inbicta"!

Bjinhos e have fun!
Maf.

Anónimo disse...

...depois de vendida "a cena", os botões de ganza ainda em flor, o guna gingão ajeita o bordado boné e vai visitar a sua Sheila. Leva-lhe o amor num portátil negociado no jardim.
À noite, um balázio à porta da discoteca para espantar males de amor. Espreguiça-se já a manhã e ouvem-se o chilrear dos pássaros. QuimZé entra em casa com o dia ganho: telemóveis e um conto de ganza para passar a tarde. Passa na frente do espelho. As persianas deixam entrar os primeiros raios de sol e QuinZé sorri. Contempla uma última vez, pelas frinchas, o seu Porto em ruínas e pousando o boné bordado na mesinha de cabeceira, QuimZé cai na cama e sonha com uma concentração de polícias numa Lisboa a arder...